Sindicatos profissionais vêm tentando sensibilizar os patrões para a necessidade de recomposição do poder de compra dos trabalhadores face à escalada no custo de vida
Jornalistas paranaenses recebem 42% a menos do que seria o salário mínimo ideal para manter uma família de quatro pessoas. A análise ampara-se no estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que, em junho, indicou que o salário mínimo do brasileiro deveria ser de R$ 6.527,67. O valor atual do piso dos profissionais no Paraná é de R$ 3.810,69. Essa diferença mostra o quanto o custo de vida no Brasil é alto.
O dado é recebido com preocupação pelo SindijorPR e Sindijor Norte PR, que têm apelado para que os donos da mídia, com seus sindicatos patronais, avancem nas negociações para renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) 2022/2023. Enquanto as perdas da categoria já passam dos 17%, os empresários, que em alguns casos se portam como verdadeiros 'barões da mídia', insistem em empurrar aos trabalhadores um pacote de maldades ao propor um reajuste pífio de 4% associado à retirada de vários direitos já assegurados aos profissionais há décadas.
A avaliação do Dieese leva em consideração o texto constitucional que determina que o salário mínimo deve ter condições de garantir que o trabalhador arque com as despesas suas e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O salário mínimo ideal é estabelecido com base na cesta básica mais cara do país, que foi a de São Paulo (R$ 777,01).
No Paraná, o Dieese usa os dados de Curitiba para realizar os cálculos. De acordo com o estudo, quem mora na capital paranaense precisou desembolsar pouco mais de R$ 701 em junho para adquirir somente os produtos da cesta básica. O valor do salário mínimo nacional neste ano é de R$ 1.212,00, 5,39 vezes abaixo do ideal.
Como os jornalistas do Paraná vêm de duas negociações, em 2020 e 2021, em que os patrões se valeram da pandemia para impor perdas aos trabalhadores, a inflação tem sido sentida com mais intensidade pelos profissionais que, inclusive, já pressionam os sindicatos por paralisações nas redações.
Incoerência
Enquanto o salário do jornalista não alcança o final de cada mês, os empresários da mídia contam com uma série de ‘parceiros’ para driblar os efeitos da crise, tais como os governos Ratinho Junior e Jair Bolsonaro que têm destinado milhões a título de propaganda às empresas de Comunicação do Estado. Somente o governador do Paraná – cuja família é dona de um dos maiores grupos de Comunicação do Sul do País – garantiu mais de R$ 128 milhões em 2021 para TVs, rádios, jornais e outros.
O resultado da ‘mãozinha amiga’ está expresso nos anúncios recentes, realizados por empresas que atuam no Paraná, de investimentos na expansão de seus negócios. E que fique muito claro que os jornalistas não são contrários aos investimentos, também assegurados pela credibilidade e seriedade dedicadas pelos próprios profissionais às empresas. Os trabalhadores apenas estão lutando para continuar realizando seu trabalho com o mínimo de dignidade.