O Paraná é o quinto Estado com mais endividados no País segundo dados da Pesquisa de Inadimplência do Consumidor (Serasa Experian), divulgada no último dia 11. Enquanto o Brasil soma 66,6 milhões de endividados, ou seja 31% da população – maior número desde o início do estudo, em 2006 -, 3,5 milhões de paranaenses não conseguem mais pagar as contas a cada mês. Entre eles, estão os jornalistas que não recebem o mínimo de consideração dos empresários da Comunicação.
As perdas nos salários dos jornalistas ultrapassam 17% desde 2020. E o que os nossos patrões querem? Vem insistindo em empurrar um ‘pacote de maldades’ para a categoria, com retirada de direitos e reajuste pífio de 4%. Entre as empresas, as principais emissoras de TV afiliadas à Globo, Record TV, SBT e Band.
As empresas seguem lucrando e aumentando seus ativos. Exemplo disso é a Rede Massa, afiliada do SBT, que cresceu seus investimentos em rádios não só no Paraná, mas em outros Estados. Essa expansão provocou o Grupo RIC, com sua RICtv, afiliada da Record TV, a também comprar rádios por todo o Estado. São apenas duas que, ainda, comemoraram superação de metas na janela do primeiro semestre deste ano. Há todo um conjunto para se chegar a isso, mas quem dá as caras para a sociedade são os jornalistas, que não recebem valorização justa.
Os jornalistas paranaenses, embora estejam trabalhando para empresários que gostam de se autoproclamar como pessoas do século 21, na verdade, estão vendendo sua força de trabalho para verdadeiros ‘barões da mídia’ do século 19, que querem mais é encher o próprio bolso e aumentar suas próprias fortunas pessoais, ao custo da saúde de trabalhadores e ficando com parte do ‘pão’ que tem sido retirado da boca das famílias dos seus empregados.
É importante deixar claro que ao impor a precarização e o empobrecimento da categoria, o patronato da mídia paranaense também dá sua parcela de contribuição para o recrudescimento da crise: ou jornalistas não consomem? Se os profissionais não têm garantido reajuste salarial à altura da escalada da inflação, como terão condições de consumir, mantendo a roda capitalista do comércio e da indústria girando?
Em outras palavras, os empresários da Comunicação gostam (e muito!) de receber os recursos de anunciantes – governos, comércio e indústria -, mas não parecem nem um pouco preocupados em fazer a sua parte para que os ‘parceiros’ possam se beneficiar da recuperação do poder de compra dos jornalistas. Lógica estranha, não?!
De acordo com a pesquisa da Serasa Experian, em um ano, o número de brasileiros com o ‘nome sujo’ aumentou em quatro milhões. O principal gatilho para o endividamento tem sido o cartão de crédito (28,2%), seguido das contas básicas (22,7%), como energia elétrica, água e gás. Segundo o Dieese, em junho, para dar conta das despesas básicas de uma família com quatro pessoas, o salário mínimo ideal do brasileiro deveria ter sido de R$ 6.527,67. O piso do jornalista paranaense é R$ 3.810,69, ou seja, 42% a menos do que o apontado pelo Dieese.
Com perdas salariais, data-base 2022/2023 em atraso e diante das demissões no setor – foram mais de 100 em todo o Estado ao longo da pandemia – jornalistas têm se virado como podem para ‘esticar’ o dinheiro até o final de cada mês. Os relatos que têm chegado às entidades sindicais dão conta de profissionais que estão apelando para os freelas quando e como podem e/ou atrasando mensalmente as contas básicas para sobreviver com o mínimo de dignidade. Isso porque os jornalistas não conseguem obter a reposição da inflação desde 2020. Neste sentido, a inflação de dois dígitos – triste marca alcançada no Brasil desde setembro do ano passado – tem atingido a categoria com mais intensidade, pois os trabalhadores já vêm de anos anteriores com o poder de compra reduzido pelo metade.
Uma sondagem realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) a pedido do G1 – que integra um dos maiores grupos de Comunicação do Estado e do país – expôs que uma em cada três famílias brasileiras possui dívidas atrasadas. A alta da inflação é apontada no estudo como o principal fator para que as pessoas recaiam no endividamento. Tal cenário, associado às altas taxas de desemprego (mais de 10 milhões atualmente), à cultura do subemprego e às baixas remunerações, tem deixado o país à beira de uma verdadeira tragédia social.
Por essas e outras razões que o SindijorPR e o Sindijor Norte PR, diante do apelo da categoria, têm se esforçado ao máximo para chamar o patronato da mídia paranaense à razão. Nós, jornalistas paranaenses, que muitas vezes adoecemos ao enriquecer as empresas, só queremos trabalhar recebendo o justo para sustentarmos nossas famílias com dignidade e seguirmos prestando nosso serviço tão caro à sociedade e à democracia.