As empresas de comunicação do Paraná, em especial as de rádio e TV, e seus donos receberam do Governo do Paraná, sob gestão de Ratinho Junior - cuja família também detém redes de rádio e televisão no Estado - mais de R$ 128 milhões e 750 mil. O valor é o empregado pelo governador, pré-candidato a reeleição, em propaganda e publicidade legal só no ano de 2021. Os sindicatos que representam jornalistas profissionais, SindijorPR e Sindijor Norte PR, tiveram acesso a informação por meio de ferramentas de transparência pública e externam a situação para a sociedade com espanto. É que não existe justificativa para os ataques ao salário e direitos estabelecidos há anos em Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos trabalhadores, o mais recente na proposta encaminhada pelos patrões no dia 22 de junho.
Aos jornalistas, e depois de levar em consideração os valores recebidos do Estado, fica claro o objetivo dos donos da mídia: manter ou aumentar apenas seus próprios lucros. O empresariado que defende menos estado para os mais pobres, menos direitos trabalhistas, recebe milhões de recursos públicos em formato de publicidade. Os patrões puxam o cordão da exploração ao máximo e deixam seus trabalhadores, de alguma forma, submissos. E quanto menos dinheiro o funcionário tem, melhor para que funcione o "pacote de maldades", um verdadeiro desrespeito a todos os profissionais que também são responsáveis por muitos luxos desfrutados pelos patrões - isso inclui os milhões. Só que fica a dica para os empresários, os jornalistas têm se informado cada vez mais da negociação e essa tentativa de subordinação, com pressão econômica, não vai funcionar.
Os sindicatos que representam profissionais haviam alertado que não gostariam que a negociação da CCT entrasse em período eleitoral, mas o "pré" já está aí. Receber dinheiro público para prestação de serviços não é ruim. Ao contrário, em alguns caso ajuda a manter a saúde das empresas. Ruim é, na verdade, empregar esse dinheiro de forma incoerente. Os jornalistas e os sindicatos não querem dizer a forma que os empresários devem gerir seus negócios ou investir os recebidos, seja de quem for, mas é um absurdo que não haja uma negociação justa com a categoria.
Somente no último ano, 2021, o governo Ratinho Junior ‘investiu’ nas empresas de Comunicação paranaenses nada menos do que R$ 128.752.034,34. A cifra é 119% maior do que os R$ 58.728.950,33 aplicados com a mesma finalidade em 2019 - primeiro ano de governo do filho de um dos maiores empresários da Comunicação no Paraná, Carlos Roberto Massa, o Ratinho. Em 2020, os paranaenses contribuíram com as empresas da área destinando R$ 73.754.638,96.
Considerando, por exemplo, somente os valores remetidos às emissoras de rádio – cujos empresários sempre se declaram como preteridos quando o assunto é assumir seus lucros – a variação foi de 252% entre 2019 e 2021. No primeiro ano do governo Ratinho Junior, os donos das rádios paranaenses receberam R$ 9.345.705,85 a título de propaganda; em 2020 a cifra subiu para R$ 10.248.227,87, escalando até chegar aos R$ 32.912.366,22 alcançados em 2021.
Enquanto os recursos aplicados em propagandas veiculadas em jornais e revistas paranaenses não têm sofrido muita variação, o mesmo não acontece em relação à grana que entra nos bolsos dos proprietários das emissoras de TV. De 2019 a 2021, o governo Ratinho Junior ampliou em 158% os recursos ‘investidos’ a título de propaganda nas TVs do Estado: em 2019 foram R$ 27.672.006,52; passando aos R$ 46.599.698,77 em 2020; e atingindo o ápice de R$ 71.517.300,69 no ano passado.
Dados de 2019
Jornal: R$ 10.092.714,04
Rádio: R$ 9.345.705,85
Revista: R$ 648.148,19
TV: R$ 27.672.006,52
Publicidade Legal: R$ 10.970.375,73
Total: R$ 58.728.950,33
Dados de 2020
Jornal: R$ 11.207.730,93
Rádio: R$ 10.248.227,87
Revista: R$ 571.713,09
TV: R$ 46.599.698,77
Publicidade Legal: R$ 5.127.268,30
Total: R$ 73.754.638,96
Dados de 2021
Jornal: R$ 11.974.623,10
Rádio: R$ 32.912.366,22
Revista: R$ 546.470,27
TV: R$ 71.517.300,69
Publicidade Legal: R$ 11.801.274,06
Total: R$ 128.752.034,34
É importante mencionar que para chegar a esses dados foram consideradas apenas as despesas declaradas pelo governo do Estado em propaganda nas emissoras de rádio e TV, jornais e revistas e em publicidade legal (esta referente à publicação de editais, avisos, entre outros comunicados que órgãos da administração pública são obrigados a divulgar por força de lei) excluindo-se, por exemplo, aquelas que são veiculadas por meio da internet - que, muitas vezes, também beneficiam os ‘barões da mídia’ – e, também, a contratação de serviços de impulsionamento de postagens em redes sociais e a contratação de outros serviços publicitários. Logo, as cifras são certamente ainda maiores.
Os empresários da comunicação do Paraná sempre aparecem para conversar com o SindijorPR e Sindijor Norte PR alegando dificuldades financeiras. Se não de uma, de várias empresas, mas sem citar nomes. Na verdade, estão chorando as pitangas há anos. Em 2019, eles alegam que não tinham dinheiro, tampouco em 2020 e nem em 2021, quando apenas verbas publicitárias do governo Ratinho Junior, que tem a Rede Massa e sua família como beneficiária, ultrapassaram a marca dos CEM em milhões. Enquanto isso, jornalistas permanecem SEM reajuste. Claro que temos muitas críticas a repasses para a mídia, mas o que nos interessa é o reajuste dos jornalistas, porque sem investir os patrões não ficaram e não foi apenas na manutenção de seus negócios.
Os sindicatos profissionais bem que queriam que todo esse esforço dos empresários representasse algo positivo aos jornalistas, como por exemplo a criação de novos empregos, mas além disso não acontecer, querem enfiar goela abaixo o tal pacote de maldades, com reajuste ínfimo e perdas de direitos já constituídos na relação trabalhista. A precarização da mão de obra tem consequências que podem afetar o funcionamento das próprias empresas a curto e a longo prazo. Um exemplo mais claro disso é a fuga de talentos, perceptível em algumas redações.
O SindijorPR e o Sindijor Norte PR esperam que a próxima Mesa de Negociação dos patrões avance no sentido de ser mais justa. Os jornalistas trabalham para o crescimento das empresas. Ninguém quer "matar a galinha dos ovos" e sim ser recompensado pelo esforço em seguir valorizando "ouro".