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01/04/2019

AMEAÇA NÃO É MIMIMI

AMEAÇA NÃO É MIMIMI
Foto: Joka Madruga

Manifestação em frente à RIC cobra posição da empresa em defesa da jornalista Giulianne Kuiava


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), com o apoio de profissionais, estudantes e representantes de movimentos feministas e sociais, participou nesta segunda-feira (1.º) de um protesto em frente à Rede Independência de Comunicação (RIC), em Curitiba, em solidariedade à jornalista Giulianne Kuiava, que foi ameaçada de morte pelo ex-noivo e também jornalista, Denian Couto. Ambos trabalham na RIC. Couto pediu afastamento do trabalho e Kuiava está de licença.


A ameaça ganhou repercussão após a veiculação de uma matéria no The Intercept Brasil, no dia 28 de março deste ano, em que foi divulgado um áudio com as intimidações recebidas pela jornalista. A direção da RIC não tomou uma atitude de imediato, tratando o tema como um mero problema particular dos dois profissionais.


A jornalista Daiane Andrade participou do ato por acreditar que este tipo de situação não pode ser “varrida para debaixo do tapete”. “É preciso olhar para este caso com atenção, pois ele envolve várias esferas dos crimes de gênero. Não dá para aceitar que uma jornalista ameaçada de morte esteja trabalhando no mesmo ambiente que a pessoa que a ameaçou. Além disso, este caso serve para mostrar que ela não está sozinha e que não iremos nos calar”, comenta.


Francielle Colpani, que já trabalhou na RIC, fala que já passou por algo semelhante na empresa, o que acabou a levando desistir da profissão. “A minha situação, embora não tenha tido um envolvimento amoroso, resultou em um episódio de assédio moral por conta de um colega que me humilhou. Levei o caso para a gerente de jornalismo, mas nada foi feito para que o ambiente ficasse mais agradável. O resultado disso é que tive que sair da empresa, reconstruir a minha vida, enquanto que com a pessoa que me prejudicou não aconteceu nada, inclusive segue trabalhando na RIC até hoje”, conta.


A diretora de comunicação do SindijorPR, Mariana Franco Ramos, explica que o sindicato já tomou medidas para dar suporte à vítima. “O SindijorPR, ao saber deste caso, agiu rápido, cobrando um posicionamento da empresa e atuando junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que já abriu um procedimento investigatório para acompanhar este caso. Além disso, acionamos o nosso jurídico, enviamos ofício para a RIC, informamos a comissão dos direitos da mulher da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e da Câmara Municipal de Curitiba (CMC). A coragem da Giulianne foi fundamental para expor esta situação e agora estamos dando toda a ajuda possível para ela”, garante.


O estudante de psicologia Daian Crismel, junto com um grupo de amigos, resolveu ser solidário a esta causa. “Acredito que é meu dever como cidadão apoiar uma iniciativa como esta, em que uma mulher foi ameaçada e xingada por um homem. É importante ter esta conscientização e acredito que posso fazer a diferença”, opina.


Depoimentos na CMC

A vereadora Professora Josete (PT) fez um pronunciamento hoje na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) em defesa da jornalista. Para a parlamentar, o caso é grave por se tratar de uma figura conhecida e “formadora de opinião”, além de a vítima ter perdido a medida protetiva que impedia o ex-noivo de se aproximar dela. “Não podemos ficar caladas e calados. Essa garota segue correndo risco, pois perdeu uma medida protetiva”, diz.


Professora Josete também cobrou a RIC por não ter sido firme no caso. “A empresa também foi omissa, pois enquanto o acusado pede afastamento e tenta dar a impressão que foi vítima de uma armação, a empresa não se posiciona firmemente sobre um caso de violência doméstica sofrida por uma trabalhadora. Não se trata de uma questão particular de um casal, mas sim de um caso grave de violência e ameaça de morte, um contexto onde não cabe a omissão”.


A vereadora encerrou o seu discurso parabenizando a coragem de Kuiava. “Que seu ato estimule e encoraje outras mulheres que sofrem com o machismo todos os dias. Seguimos todas juntas, fortes e vigilantes”.


A vereadora Maria Letícia Fagundes (PV) também usou a tribuna para falar do caso. “O jornalista Denian Couto trabalha em dois meios de comunicação, na rádio Jovem Pan e no Grupo RIC de Comunicação. Como é que as empresas escolhem seus funcionários? Qualquer tipo de violência, física ou verbal, é inadmissível”.


A legisladora, ainda em seu pronunciamento, mandou um recado de apoio à vítima Giulianne Kuiava. “Nós, mulheres, não estamos mais sozinhas. A voz de uma é a voz de todas. Estamos com você, Giulianne”.


Giulianne

Mesmo no centro de todas as questões que envolvem este caso, a jornalista Giulianne Kuiava deu um depoimento e expôs como tem se sentido. “Acredito que neste momento todo apoio é de grande importância. Eu me senti desamparada por muito tempo, e agora sinto que as pessoas e as instituições estão se dando conta da gravidade da situação. Não tinha ideia que tudo isso aconteceria, mas hoje vejo e entendo a necessidade de se falar sobre violência contra a mulher, em todos os níveis, em todos os ambientes. A mobilização nos torna mais fortes. Tenho certeza de que as empresas, todas elas, hoje veem a importância do apoio à mulher. Tenho certeza que juntos estamos dando um passo importante pra que se olhe pra dentro do problema, e que as coisas começam a mudar a partir de agora”.

#RICTVAMEAÇANÃOÉMIMIMI

Autor:Flávio Laginski
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