O
ato já vem acontecendo em diversas cidades brasileiras e hoje (07) é a vez de
Curitiba. Às 16h, com saída da Praça Santos Andrade, as mulheres vão às ruas para protagonizar uma
manifestação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, com o
Projeto de Lei (PL) 5069, ameaça direitos sexuais e reprodutivos duramente
conquistados.
Mais de treze mil pessoas já confirmaram presença no evento, organizado por mulheres da sociedade civil e movimentos estudantil e social. A movimentação é
grande, pois o projeto ameaça a vida das mulheres.
Retrocessos
No PL5069, somente o ato sexual sem consentimento “e que cause dano físico ou
psicológico” seria definido como estupro, cabendo à vítima provar o crime.
Nesses casos, o aborto só poderia ser acessado se a mulher registrasse boletim de
ocorrência e fizesse exame de corpo de delito.
Se
aprovada, a lei também não vai garantir, mesmo em caso de estupro
reconhecido pela polícia através de boletim de ocorrência, a pílula do dia
seguinte, tampouco orientações. Um imenso retrocesso diante do cenário atual
que garante as mulheres atendidas nesses casos pelo SUS, o mínimo: kit anti-HIV
e a pílula do dia seguinte.
#AgoraéQueSãoElas
Direta
e indiretamente, interna e externamente, a mídia brasileira também é culpada
por abafar as vozes femininas. Tudo começa dentro das redações. Segundo
pesquisa de 2013 da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), feita em
parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina), as mulheres representam
64% dos jornalistas do País:
“Essa
maioria, contudo, não se reflete em alguns dos espaços “nobres” dos veículos de
comunicação, como colunas e blogs de maior audiência. A nossa luta tem de ser,
portanto, para ocupar esses espaços, de uma vez por todas, se contrapondo ao
discurso quase que hegemônico dos homens. E digo o mesmo em relação aos negros
e à população LGBT. Queremos mais e melhor visibilidade”, afirma Mariana Franco
Ramos, diretora de fiscalização do SindijorPR
Partindo
disso, durante essa semana, homens que possuem espaço na mídia foram instigados
a ficarem como espectadores. Ao invés de escreverem e publicarem textos sobre
os direitos das mulheres e questões de gênero, a proposta foi abrirem ‘seus’
espaços para que elas falassem por si. Portanto, até domingo (8), mulheres de
diferentes contextos estão ocupando espaços que historicamente são destinados
aos homens.
A
iniciativa compõe a campanha #AgoraÉQueSãoElas, que circulou com intensidade
nas redes sociais nos últimos dias. Por
um lado, a ação protagonizada por mulheres, que só pelo fato de serem
feministas e terem dado esse passo já se tornam alvo de xingamentos, assédios e
ameaças, é plausível. Isso porque, apesar de não cortar o mal pela raiz, provoca
o questionamento da necessidade de um passo como esse, onde, por apenas uma
semana, as mulheres terão um espaço de visibilidade para compartilhar seus
pontos de vistas.
Mas é justamente daí que também surge a crítica, não contra a ação em
específico, mas pelo cenário que ela se dá: “Eu não invalido a campanha
#AgoraÉQueSãoElas, proposta no mesmo momento em que observamos um avanço das
pautas conservadoras no Congresso Nacional, sobretudo aquelas que retiram
direitos humanos já conquistados pelas mulheres, como o aborto em caso de estupro
e o acolhimento das vítimas de violência sexual. Pelo contrário: acredito que
ela tem dado voz, ainda que apenas por uma semana, a muitas feministas. Mas
precisamos ir além”, reflete Mariana.
A jornalista e diretora do SindijorPR, ressalta, por exemplo, outra campanha
chamada “Sempre Foram Elas” que tem como objetivo promover mulheres
jornalistas, blogueiras, escritoras e militantes. O Coletivo de Jornalistas
Feministas Nísia Floresta, do qual Mariana faz parte, produziu um texto que
reflete sobre a iniciativa.
Números embasam o que o dia a dia já
diz
No
artigo “Por que precisamos de um movimento para mulheres ocuparem a mídia”, Mônica Mourão, do Coletivo Intervozes, relembra como isso se dá no
cenário brasileiro em dois âmbitos:
O primeiro deles é na hostilização e ridicularizarão que a mulheres estão muito
mais suscetíveis que os homens e, como em diversas outras questões, as mulheres
negras sofrem ainda mais. Basta lembrar, apenas um dos vários exemplos, dos
racismos sofridos neste ano pela repórter Maria Julia Coutinho, conhecida como
Maju, a “moça do tempo” do Jornal Nacional.
Além
disso, de fato, apesar de serem maioria, as mulheres ocupam menos os postos
altos nas redações. Conforme pesquisa de Mônica, “de 122 colunas da Folha de
S.Paulo, 34 são assinadas por mulheres, uma por crianças que se revezam a cada
mês e as demais 87 por homens. No portal G1, a lista de colunas e blogs
apresenta apenas 26 no total, sendo que nove são feitas por mulheres”.
E
na internet isso não é diferente. “Em matéria do Correio Braziliense de
fevereiro desse ano, a lista dos cinco canais do youtube mais acessados no
Brasil revela que apenas um é feito por uma mulher, o 5incominutos, em quarto
lugar em número de inscritos e acessos”, afirma o artigo.
Por outro lado, a mídia também é responsável por firmar padrões de
comportamento e de beleza que reforçam estereótipos que contribuem para o
aprisionamento, e até adoecimento e morte, de muitas mulheres. Além disso,
hipersexualizam os corpos e legitimam assédios e estupros. Basta lembrar de
inúmeras propagandas de cervejas, como exemplo a Devassa que foi processada em
2013 pelo Ministério Público.
Boas iniciativas despontam como
esperança
Está dada a necessidade das mulheres se olharem e se auto organizarem.
Felizmente, algumas boas inciativas já vêm acontecendo em diversos cenários,
inclusive o da comunicação. É o caso do já citado Coletivo de Jornalistas
Feministas Nísia Floresta, também das Blogueiras Feministas, Lugar de Mulher,
Geledés, Escreva Lola Escreva, na coluna da pesquisadora Djamila Ribeiro, no
canal Jout Jout Prazer, Lugar de Mulher,
Imprensa Feminista,Think Olga, Escreva, Lola, Escreva, Blogueiras
Feministas, Escritório Feminista,
Questão de Gênero, Editoria do jornal inglês The Guardian sobre
Feminismo, Blogueiras Negras,Everyday
Feminism, Ms Magazine, Nádia Lapa, Ativismo de Sofá, Centro Feminista de
Estudos e Assessoria (CFEMEA), Revista
Estudos Feministas, Sempre Viva Organização Feminista, Agência Patrícia Galvão,
ONU Mulheres, Feministing, Women, Action & the Media, entre outros.
Neste
caminho, o SindijorPR encoraja as jornalistas a comparecerem ao ato de hoje,
levando amigos e familiares, e a, em suas atividades diárias, contribuírem para
a representatividade e visibilidade plural das mulheres. O Manual de Gênero dá
uma ajudinha nisso.