Na terça-feira (13), estreiou em Curitiba, na Reitoria UFPR, o documentário "Massacre 29 de abril" seguido de debate com Rafael Schoenherr do Coletivo Lente Quente.
Um registro que é força para a memória
sobre o que jamais devemos esquecer. Nesse caso, desde o olhar de estudantes
e professores de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), através
do projeto de extensão Lente Quente, com apoio da Agência de Jornalismo, da TV
Comunitária e do Sinduepg, que pensam a greve como um momento de aprendizado e
produção.
Tudo começou no dia seguinte à tragédia, quando perceberam que, para além da
imensidão do fato histórico, também estava o contexto, as formas e plataformas
com as quais ele era registrado:
“O episódio do dia 29 tem uma singularidade que são os registros coletivos da
ação policial. Todos tinham um smartphone com câmera e puderam fazer registros
no local, de vários ângulos e perspectivas, além de imagens feitas com câmeras
profissionais. A partir do momento em que nos demos conta disso - destaco aqui
a iniciativa dos professores Rafael Schoenherr, Sérgio Luiz Gadini e Felipe
Pontes - e estes vídeos foram identificados, professores e alunos dos cursos
começaram a juntar o material, simultaneamente a coleta de depoimentos”, conta
Marcia Boroski, professora de jornalismo da UEPG e também idealizadora do
projeto.
Os passos seguintes também seguiram a mesma lógica, com várias pessoas
na captação e nas entrevistas, assim como na seleção e edição de imagens. Era
um coletivo pensando e produzindo na construção de uma memória coletiva.
“Durante 30 dias participei da produção desse documentário elaborando várias funções, gravei, cansei, editei, produzi, me emocionei, dei entrevista, aprendi trabalhar em equipe, descobri limites que ainda não conhecia, segurei microfone, luz e foi assim, todo mundo que estava no grupo fazia de tudo. Com a garganta seca e o coração suando, a primeira exibição do documentário em um teatro totalmente lotado foi o momento mais gratificante”, relembra Ângelo Rocha, um dos estudantes de jornalismo da UEPG que participou do processo.
Construindo um novo olhar
Para Marcia, entre os ganhos do processo vivenciado, em alguma medida, se
destaca ter conseguido mostrar na prática as dificuldades de fugir da representação
da mídia hegemônica, “além de ter levado estes estudantes para dentro do
processo de discussão da greve do funcionalismo público deste ano e estar
dentro deste movimento, com certeza, constrói perspectivas de mundo mais
complexas”, aponta.
O estudante jornalismo José Gabriel, que também participou do processo,
reflete sobre como o processo contribuiu para pensar além do que se entende por
jornalismo tradicional: “O documentário mostrou que um jornalismo de qualidade
pode ser realizado de forma independente e com recursos relativamente baratos e
nós, como estudantes de jornalismo presentes no momento do massacre, tínhamos
como melhor arma de protesto a documentação e a produção sistemática de
materiais que denunciassem o que se passava naquele dia”.
Para os estudantes e professores do projeto, os formatos que se
fundamentam na imagem têm um papel fundamental e já estão consolidados e
onipresentes na nossa sociedade. “Isso significa que a linguagem está, em certa
medida, já apropriada em nossa sociedade, e demanda dos profissionais de mídia,
no nosso caso, de jornalismo, de repensar as práticas. E a concepção do
documentário mostrou para nós, professores, e para os alunos, de forma objetiva
e intensa, que não somos mais os únicos proprietários da produção de conteúdo
com interesse público, afinal, dividimos créditos das imagens com cidadãos”,
finaliza Marcia.
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