ARTIGOS
Na Comissão Estadual da Verdade Teresa Urban surgiu um boato e todos acreditaram: “O Heller é uma história viva”, porque em 1964 eu era repórter político da Ultima Hora, vi a conspiração e o golpe para derrubar o Jango, que cometera a Heresia de regulamentar a lei de remessa de lucros: 90% teriam que ser reinvestidos no Brasil e 10 poderiam ser enviados à matriz. As multinacionais perderam as estribeiras: “Onde se viu o Brasil terceiro-mundista querer ser independente?” Aí, nos governos Kennedy e Johnson a CIA foi mobilizada para arquitetar a quartelada, com o apoio ostensivo dos bancos nacionais e internacionais, mais o apoio da alta hierarquia da Igreja, do Conselho Federal da OAB, da FIESP, de todos os magnatas da paulicéia desvairada e dos militares golpistas. Ninguém pode ser acusado de história viva, pois a história não envelhece.
São episódios de tempos idos, que se atualizam quando se contam os fatos acontecidos e ignorados pela posteridade. Não era dever constitucional do exército massacrar os seguidores do conselheiro Antônio Maciel, sob o pretexto absurdo de que os camponeses no interior da Bahia eram monarquistas. Anos depois o exército atendeu o apelo de governos estaduais e promoveu uma guerra de extermínio no Contestado. Desta vez com o apoio de policiais militares e jagunços a soldo de grandes fazendeiros de índole escravocrata.
Dizia-se então que o Brasil negro e mulato jamais seria um país moderno. Nos últimos suspiros da Monarquia e pela República a dentro, a política de branqueamento da população resultou na vinda de milhares de imigrantes de olhos azuis. E trombeteava-se que uma nova Europa surgiria nos céus da América. A região eleita para esta política foi o sul do país, especialmente na área do Contestado entre o Paraná e Santa Catarina. Para alojar os imigrantes era preciso expulsar os caboclos de mãos calejadas, que ali viviam e seguiam à risca o mandamento bíblico: “Crescei e multiplicai-vos”. Os caboclos, descendentes de índios e negros escravos, cruzados com portugueses e espanhóis reagiram. Foi uma guera civil que durou seis anos e mais de 20 mil pessoas morreram. Não apenas os combatentes, mas também idosos, mulheres e crianças, o que nos remete à tragédia da faixa de Gaza e demonstra que a história não envelhece jamais.
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