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ARTIGOS

Autor: Guilherme Carvalho
08/07/2013

O avanço da imprensa sindical precisa ser acompanhado da valorização dos profissionais

Pré-julgada por alguns, desmerecida por outros, a imprensa sindical tem dado mostras da sua capacidade de adaptação não apenas às diferentes conjunturas políticas, comprovada pela sua durabilidade, expansão e profissionalização nas últimas décadas, mas também pela assimilação do processo de reorganização dos meios de comunicação e sua relação com a sociedade, acompanhando as tendências das empresas do setor, impulsionadas pelas novas tecnologias.

Não é mais possível compreender imprensa sindical pelo conceito reduzido de jornal impresso, uma marca do sindicalismo dos anos 1980 e 1990 no Brasil. A partir dos anos 2000, pode-se perceber uma mudança significativa na capacidade de comunicação de boa parte dos sindicatos. Jornais e revistas sindicais, agora produzidos com menores custos e maior agilidade, fazem parte de um conjunto de plataformas utilizadas com a intenção de divulgar conteúdos.

Páginas na internet, programas de webrádio, produção de vídeos para internet, alimentação de perfis em redes sociais, boletins eletrônicos, clipping de notícias, produção de releases para imprensa, troca de informações com maior agilidade e a constituição de redes de notícias têm feito parte da vida de jornalistas de sindicatos com maior intensidade a cada dia.

A operação de novas ferramentas, aliado à disposição de recursos e uma percepção positiva dos dirigentes sindicais sobre investimentos em comunicação, tem resultado em uma profissionalização do meio. O desenvolvimento da imprensa sindical, ainda que distante do que é realizado pela imprensa comercial, prova que os sindicatos têm investido em novas ferramentas de comunicação e, consequentemente, têm colhido resultados positivos, seja com o aumento de sindicalizações, com o fortalecimento da sua representatividade e da capacidade de mobilização, ou com uma maior competitividade na disputa por “corações e mentes”.

Por outro lado, o avanço das novas tecnologias e a competição pela audiência nas informações, também produz resultados negativos para o jornalista sindical, a exemplo do que já ocorre nos meios de comunicação comerciais. O que se observa é o crescimento do acúmulo de funções neste segmento da categoria, conforme pode ser observado no gráfico a seguir.

Atividades desenvolvidas por jornalistas sindicais (%)

gráfico

Os profissionais passam a desenvolver uma série de atividades antes parcializadas entre diferentes profissionais. O que se percebe é uma capacidade de aumento da produtividade jornalística, aliada à redução de custos, uma vez que determinadas tarefas podem ser executadas por um mesmo profissional. Por outro lado, a exigência pela realização de multitarefas implica em graus de conhecimento variáveis para os jornalistas sindicais. Deste modo, há um risco maior de erros em conteúdos produzidos, como informações distorcidas, falta de apuração de dados, fotografias mal feitas, erros de digitação e diagramação, entre outros problemas que aparecem como resultado de uma jornada de trabalho carregada de estresse e polivalência.

De acordo com o survey realizado, 95% dos jornalistas de sindicatos trabalham com carteira assinada, apontando uma prevalência quase absoluta do contrato formal na área e o respeito à legislação trabalhista. A média salarial gira em torno de R$ 2,6 mil, pouco acima do piso salarial da categoria e estes profissionais, apesar da média de idade de 30 anos contam com apenas 3 anos em média de tempo de trabalho na imprensa sindical, para 7 anos de trabalho como jornalistas. O pouco tempo e a média salarial baixa, em comparação com outros locais de trabalho, considerando que na imprensa comercial os salários mantêm uma média de R$ 3,6 mil, e que neste quadro deve-se considerar os cargos de chefia, indica-se a ausência de perspectivas de carreira para jornalistas em sindicatos. Parte disto se deve ao fato de que, em geral, como há poucos profissionais atuando em sindicatos, reduz-se também a possibilidade de hierarquização das funções. Assim, são poucos os que acumulam cargos de supervisão ou chefias, como editores, editores-chefes, entre outros que são garantidos em empresas de comunicação, onde os ganhos podem ser significativamente maiores após certo tempo de trabalho ou com determinada qualificação.

Extraído do artigo “Muito além do jornal: a nova imprensa sindical”, publicado na revista Estudos em Jornalismo e Mídia (UFSC).
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Por Guilherme Carvalho - jornalista e presidente do Sindijor 

*O artigo de opinião é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Sindijor-PR.

Articulista: Guilherme Carvalho
Professor doutor da Universidade Federal do Paraná e do Centro Universitário Internacional, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor).
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