Uma pesquisa* conduzida pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná, Sindijor Norte PR, e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, SindijorPR, revelou que mais de 70% dos jornalistas sofreram algum tipo de violência no exercício da profissão ao longo de suas carreiras. A maior parte das agressões é realizada por superiores hierárquicos, mas em segundo lugar estão as agressões cometidas por colegas de trabalho, fontes e até mesmo outros jornalistas.
Os sindicatos deixaram um campo aberto para que, anonimamente, situações de violência fossem descritas. Uma jornalista relatou ter sofrido misoginia por mais de 20 anos e tentado denunciar o agressor, mas a empresa abafou o caso. Outras relataram que clientes e até colegas ou fontes tentaram fazer abordagens violentas, como agarrá-las. Há relatos de importunação/assédio sexual por superiores em empresa de comunicação, inclusive com pressões psicológicas envolvendo o corpo das mulheres. Interesses particulares de colegas de trabalho ou profissão também foram citados para depreciar o trabalho delas.
A maior parte da pesquisa, que recebeu 92 participações, foi respondida por mulheres - foram 50, enquanto homens representam 42. Apesar de maioria, as violências não se restringem somente a elas. Um homem LGBTQIAPN+ disse ter sofrido assédio moral e ter sua relação com seu noivo, em uma rede social particular, exposta como "antiprofissional" na visão de uma empresa. Há outros relatos que impressionam, como um jornalista ter dito que foi obrigado a produzir "fake news", outro ter sofrido assédio judicial e censura por uma deputada federal, e mais tipos de ameaças, como da polícia.
Em mais da metade dos casos, de acordo com o resultado da pesquisa, a agressão não é denunciada, nem interna tampouco externamente, com jornalistas tendo que conviver décadas em ambientes tóxicos "por medo de perder o emprego". "Chega a ser estarrecedor. Entre os relatos, estão testemunhos sobre como ambientes tóxicos e marcados pelo medo são criados para impor a desvalorização do trabalho e, ainda, como são usados para não quitar direitos trabalhistas integralmente devidos aos jornalistas. Ainda tem quem ouse dizer que 'jornalista morre de fome' para ameaçar trabalhadores", diz Valdete da Graça, Secretária de Educação do Sindijor Norte PR.
Em números, e em um campo aberto e de múltipla escolha sobre o autor(es/as) de agressões, 70 pessoas responderam. Superiores hierárquicos, o que inclui clientes, são maioria (56), colegas de trabalho (23), fontes de trabalho, incluindo personagens (19), colegas de profissão (13), leitores e público (2), empresário (1), traficante (1) e políticos ou assessores (1). Neste campo, 2 não identificaram os autores das agressões e 1 pessoa mencionou não ter sofrido nenhuma violência.
Entre os jornalistas participantes, três solicitaram ajuda de um dos Sindicatos por estarem vivendo alguma situação de violência ou por relatar situações em veículos de comunicação. Todos os casos serão encaminhados pelo Sindijor Norte PR e SindijorPR.
Entre as cidades de atuação identificadas pelos jornalistas, ou em que os profissionais atuaram pela última vez, estão: Curitiba (38), Londrina (19), Maringá (14), Ponta Grossa (5), Apucarana (2), Cascavel (2), Foz do Iguaçu (2), Guarapuava (2), Cianorte (1), Paranaguá (1), São José dos Pinhais (1) e Toledo (1). Os sindicatos ainda receberam indicações de duas pessoas do Rio de Janeiro, de uma região metropolitana do Paraná não identificada e outra de uma comuna francesa, com alguém que morou ou exerceu a profissão no Estado.
Seguindo indicações do IBGE do último Censo, os sindicatos que representam jornalistas no Paraná pediram que os 92 participantes da pesquisa também identificassem sua raça. A maior parte se autodeclara como branca (78), com pardos (11) e pretos (3). A identificação de empresas de trabalho foi opcional, mas houve registro de trabalhos em empresas privadas (23), universidades públicas (4), entidades públicas estaduais, como assembleia legislativa e governo do PR (3), universidades privadas (2), sindicato (2) e freelancer (1).
O resultado desse levantamento será apresentado nesta semana em um evento em Brasília (DF) da Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores, ligada ao Instituto Vladimir Herzog. A diretora sindical Valdete da Graça vai representar os profissionais do Paraná. "É uma base do que é a nossa realidade. A ideia é levar para a reunião e ajudar na construção de mais políticas de proteção aos jornalistas", conta Valdete.
*Pesquisa realizada entre os dias 29 de junho de 2023 e 10 de julho de 2023 por meio do Google Forms.