ARTIGOS
Onde querem chegar com isso? Primeiro votar a terceirização da atividade fim, depois a reforma trabalhista? Isso num intervalo de 24h? Quer dizer, se ignora décadas de lutas, mortes e conquistas, para, hoje, seguir uma cartilha destinada a atender o mercado financeiro?
Dia 21 de março o Projeto de Lei (PL) 4302, que regulamenta a terceirização na atividade fim das empresas, pode ser votado pelos deputados federais. O projeto tramita em regime de urgência e basicamente libera a terceirização irrestrita no Brasil. No outro dia, 22 de março,o PL 6787/16, ou proposta de reforma trabalhista, também será apreciado pelos políticos, em Brasília.
Nas propostas, tanto governo quanto mercado financeiro continuam sua cruzada contra o trabalhador. No PL 6787, por exemplo, está a legitimação da imposição do negociado sobre o legislado; sem a mediação de uma entidade de classe – um sindicato. É óbvio que haverá reduções salariais e demissões em massa. Um cenário trágico, com queda no mercado interno, já que as famílias trabalhadoras são responsáveis por 60% da formação do Produto Interno Bruto (PIB).
Não há como negar a incoerência dos gestores brasileiros. No discurso são liberais e na prática recorrem ao estado para negociar suas dívidas. Prática internacional, diga-se de passagem, enfatizada por Noam Chomsky no documentário Requiem for the American Dream.
Digamos que as riquezas de uma nação vão para uma minoria se manter privilegiada, dentro de uma estrutura econômica amarrada por laços maquiavélicos. Os trocadilhos servem para lembrar que em 1776, com o livro A Riqueza das Nações, Adam Smith tornou-se o precursor do liberalismo. Detalhe: segundo o próprio Chomsky, Smith destinou algumas páginas para falar em “solidariedade” econômica, algo que parece ser negado pelo atual modelo capitalista.
Hoje os detentores dos meios de produção, sem pudor, rasgam sua própria “bíblia”. Promovem, num momento de crise, ações que geram desemprego e corte de acesso ao crédito; ferramentas utilizadas para baixar juros e inflação e que serve principalmente para agradar o mercado financeiro. É como se voltássemos ao período FHC, mas com práticas ainda mais retrógradas.
Por isso chegamos ao velho lema: “os fins justificam os meios”?
Se a resposta for sim, esqueça Adam Smith e volte a 1513. Foi neste período que Maquiavel escreveu a obra “O Príncipe”. Já naquele período, se aplicava estratégias para esconder a verdade do povo. E é neste cenário, maquiavélico, que entra em cena um pouco de George Orwell, com 1984 (de 1948), e de Aldous Huxley, com Admirável Mundo Novo (1932).
Na primeira obra, Orwell imagina uma “ditadura oculta” articulada pelo estado, com uma população obrigada a seguir padrões de comportamento. Já Huxley, traz um “futuro” baseado em uma falsa liberdade individual, sem laços emocionais entre as pessoas.
As obras são diferentes, mas usei-as para exercer uma mesma reflexão: nesse contexto cercado de excessos de informação e totalitarismos, onde está a verdade?