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24/04/2014

O dia que a colônia atacou a imprensa. A metrópole riu

O dia que a colônia atacou a imprensa. A metrópole riu

“Sou aquele que sempre diz as coisas que faltam, o meu papel é proteger a Fifa”. Foi dessa maneira que Jèrôme Valcke iniciou sua apresentação durante a coletiva de imprensa ocorrida na tarde de terça-feira (22), em Curitiba (PR), após sua quarta visita à Arena da Baixada. Com um cartão de visitas desse, se esperava uma pessoa equilibrada e ciente de seu papel, mas a impressão logo caiu por terra, pois ao ser indagado sobre o recebimento de duplo salário em meados de 2006 enquanto estava em “quarentena” depois de sua saída – conturbada, diga-se – da Fifa, a frieza europeia deu lugar a irritação e ao invés de responder ao repórter preferiu desqualificar a denúncia.


A surpresa veio em seguida quando o presidente do Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia – que recusa a dar transparência nos investimentos públicos no estádio - reproduziu a truculência típica dos pequenos ditadores quando saiu em defesa de Valcke, como alguém que defende o pai em uma discussão de bar. Para vergonha de todos os jornalistas (acredito que todos) pediu desculpas ao senhor Fifa e agrediu verbalmente a mídia local, como se visse nos profissionais a imagem de algum animal de estimação de sua preferência.


Infelizmente esse tratamento tem sido rotineiro há muitos anos e o clube ao invés de agregar torcedores e simpatizantes está cada vez mais próximo da antipatia que dominava o Vasco da Gama em tempos de Eurico Miranda, ao menos entre as pessoas de bom senso.

Aplicar Lei da Mordaça nos atletas, entrevista coletiva somente para a rádio e site oficial; e tentativas sempre que possíveis de criticar quem tenta desempenhar seu papel, colaboram ainda mais para criar uma nuvem de dúvidas sobre o que tem acontecido no quintal rubro-negro nesses últimos anos, afinal estão sendo enterrados centenas de milhões em recursos públicos para uma modernização de pátio privado sem ao menos uma contrapartida social decente e digna do investimento.


Já a imprensa, faz o que Valcke diz fazer pela Fifa: Protege e alerta (ou tenta) o leitor das falcatruas, fraudes, falta de fiscalização e principalmente, falta de explicações sobre o que tem acontecido há mais de três anos entre os muros da Arena da Baixada, para ficarmos no exemplo rubro-negro.


Se o donatário da vez – seja de qualquer clube ou governo - se irrita é porque a imprensa está no caminho certo - fora os bajuladores de plantão - a seriedade continua sendo ao menos o melhor caminho a ser seguido, pois se há algo errado, não há tapete que possa encobrir toda a poeira por todo o tempo.


No fundo, ao agredir a mídia e defender Valcke, Petraglia demonstrou mais um gesto de relação colônia – metrópole do que a grandeza que algumas vezes pensa ter.

Fonte:Julio Cesar Lima é jornalista do Estado de São Paulo sucursal Paraná
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