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ARTIGOS

Autor: Manoel Ramires
07/07/2016

Reajuste não é favor

Reajuste não é favor

O reajuste dos jornalistas do Paraná está sendo discutido entre o sindicato patronal, formado por rádios, TVs e impressos, e os sindicatos dos trabalhadores há pelo menos dois meses. Após quatro mesas de negociação, os patrões têm se demonstrado intransigentes na valorização de seus profissionais. Além de negar em absoluto cláusulas sociais, eles saíram do patamar do congelamento de salários, passando pela proposta de R$ 60, até chegarem a absurda possibilidade de escalonar reajustes com teto de 4%. Proposta muito aquém da inflação do período de 9,83%. Ora, faça-me o favor.


Em meio a essas negociações, os patrões seguem ignorando os investimentos em seus trabalhadores e nas carreiras. Provas disso são a condenação de uma emissora de televisão por assédio moral e mais uma onda de demissões na maior empresa de comunicação do estado, revelando porque os capitalistas se negam a discutir a manutenção dos postos de trabalho como contrapartida da desvalorização salarial. O que significa uma indelicadeza sem fim.


Neste contexto, parece ser necessário esclarecer aos patrões das empresas de comunicação tradicionais que o reajuste da inflação não é um favor aos seus trabalhadores. É o mínimo que devem conceder a quem garante o seu negócio, aumenta a sua audiência e seus possíveis lucros. É preciso deixar claro que uma empresa que mal consegue repor a inflação está em descrédito com seus funcionários e com o mercado. Ora, como em uma bolsa de valores, quem vai querer comprar ações - no caso, anunciar - se percebe que a empresa está a “beira da falência” e não tem capacidade de investir sequer em sua equipe? Coerência, por favor.


Por outro lado, falta senso de empreendedorismo e responsabilidade social para as empresas de comunicação. Esse deve ser o principal motivo pela falta de pujança de seu negócio, não a folha de pagamento ou custo do papel. Afinal, o reajuste discutido não estabelece apenas o piso de seus funcionários, mas de toda a categoria no estado. Mas, ao pensar apenas no seu negócio, muitos dos empresários perdem a competitividade, uma vez que o "mercado", seja ele de assessoria de imprensa privada ou sindical, jornalismo em órgãos públicos ou institucionais, não tem reclamado de ter quer repor a inflação. Muitos, inclusive, já aplicaram o índice em maio. Nessa perspectiva, o jornalista do veículo que oferece 4% para menos não terá o menor constrangimento em pegar seu bloco de notas e ir trabalhar em outro local que pelo menos se repõe a inflação. É até um favor que faz aos empresários, pois esses enfrentam seus possíveis problemas de caixa com a criatividade dos cortes na linha de produção de informação.


Aliás, essa é uma proposta que fazemos aos demais patrões de jornalistas do Paraná: aplicar imediatamente o reajuste da inflação no período da data-base. A CUT já fez essa recomendação aos seus sindicatos filiados. O SindijorPR noticiou que diversos sindicatos já aplicaram o reajuste. O Sindseab é um. A entidade em que trabalho foi além e ainda concedeu ganho real por entender que piso não é teto. As outras centrais podem fazer o mesmo. As assessorias de comunicação, órgãos públicos como prefeituras e câmaras legislativas, idem. Muitas assessorias, por exemplo, já ofereceram 9,82% aos seus funcionários, inclusive aos jornalistas.



Esse é o chamado "piso moral". Nele e com ele, os jornalistas são realmente valorizados. Nem que seja só no salário. Quem sabe até os sindicatos dos jornalistas criem o "selo 9,83%, de bom pagador". Com isso, até jornais, TVs, sites e rádios menores que são signatários da nossa convenção já podem aplicar o reajuste, se livrando do passivo acumulado e demonstrando que na sua empresa o jornalista tem valor. Porque se depender da postura daqueles que conduzem a negociação em nome da patrãozada, tenha santa paciência.
Articulista: Manoel Ramires
Manoel Ramires é jornalista e cronista.
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