ARTIGOS
O
reajuste dos jornalistas do Paraná está sendo discutido entre o sindicato
patronal, formado por rádios, TVs e impressos, e os sindicatos dos
trabalhadores há pelo menos dois meses. Após quatro mesas de negociação, os
patrões têm se demonstrado intransigentes na valorização de seus profissionais.
Além de negar em absoluto cláusulas sociais, eles saíram do patamar do
congelamento de salários, passando pela proposta de R$ 60, até chegarem a
absurda possibilidade de escalonar reajustes com teto de 4%. Proposta muito
aquém da inflação do período de 9,83%. Ora, faça-me o favor.
Em meio a essas negociações, os patrões seguem ignorando os investimentos em
seus trabalhadores e nas carreiras. Provas disso são a condenação de uma
emissora de televisão por assédio moral e mais uma onda de demissões na maior
empresa de comunicação do estado, revelando porque os capitalistas se negam a
discutir a manutenção dos postos de trabalho como contrapartida da
desvalorização salarial. O que significa uma indelicadeza sem fim.
Neste contexto, parece ser necessário esclarecer aos patrões das empresas de
comunicação tradicionais que o reajuste da inflação não é um favor aos seus
trabalhadores. É o mínimo que devem conceder a quem garante o seu negócio,
aumenta a sua audiência e seus possíveis lucros. É preciso deixar claro que uma
empresa que mal consegue repor a inflação está em descrédito com seus
funcionários e com o mercado. Ora, como em uma bolsa de valores, quem vai
querer comprar ações - no caso, anunciar - se percebe que a empresa está a
“beira da falência” e não tem capacidade de investir sequer em sua equipe?
Coerência, por favor.
Por outro lado, falta senso de empreendedorismo e responsabilidade social para
as empresas de comunicação. Esse deve ser o principal motivo pela falta de
pujança de seu negócio, não a folha de pagamento ou custo do papel. Afinal, o
reajuste discutido não estabelece apenas o piso de seus funcionários, mas de
toda a categoria no estado. Mas, ao pensar apenas no seu negócio, muitos dos
empresários perdem a competitividade, uma vez que o "mercado", seja
ele de assessoria de imprensa privada ou sindical, jornalismo em órgãos
públicos ou institucionais, não tem reclamado de ter quer repor a inflação.
Muitos, inclusive, já aplicaram o índice em maio. Nessa perspectiva, o
jornalista do veículo que oferece 4% para menos não terá o menor
constrangimento em pegar seu bloco de notas e ir trabalhar em outro local que
pelo menos se repõe a inflação. É até um favor que faz aos empresários, pois
esses enfrentam seus possíveis problemas de caixa com a criatividade dos cortes
na linha de produção de informação.
Aliás, essa é uma proposta que fazemos aos demais patrões de jornalistas do
Paraná: aplicar imediatamente o reajuste da inflação no período da data-base. A
CUT já fez essa recomendação aos seus sindicatos filiados. O SindijorPR
noticiou que diversos sindicatos já aplicaram o reajuste. O Sindseab é um. A
entidade em que trabalho foi além e ainda concedeu ganho real por entender que
piso não é teto. As outras centrais podem fazer o mesmo. As assessorias de
comunicação, órgãos públicos como prefeituras e câmaras legislativas, idem.
Muitas assessorias, por exemplo, já ofereceram 9,82% aos seus funcionários,
inclusive aos jornalistas.