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ARTIGOS

Autor: Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta
08/03/2016

Mídia e gênero: alguns avanços a comemorar, mas muito trabalho pela frente

Mídia e gênero: alguns avanços a comemorar, mas muito trabalho pela frente
Ilustração: Sabrina Gevaerd

Neste Dia Internacional da Mulher, lançamos um desafio: abrir o jornal, acessar grandes portais de notícia ou buscar nas emissoras de televisão ou de rádio reportagens sobre o 8 de Março que tragam algum nível de problematização, e não apenas reforcem estereótipos de gênero.


A ausência quase completa de um enfoque mais propositivo e contextualizado é a prova de que, mesmo com a evolução que vem acontecendo nos últimos anos, a imprensa ainda tem muito a melhorar quando a questão é a promoção da igualdade de direitos e oportunidades entre mulheres e homens.


Todos os dias, matérias nas editorias policiais falam sobre casos de agressões e violência, ou até mesmo de assassinatos em que a mulher é a vítima. No entanto, com que frequência estas mesmas notícias trazem o termo feminicídio - nomenclatura correta para a modalidade de homicídio em que a mulher é morta unicamente por ser mulher?


Somente em 2015, o Paraná registrou 75 mil crimes contra a mulher (bit.ly/1U0yrEf) - a cada hora do ano passado, segundo o relatório da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), divulgado pelo Livre.jor, oito mulheres sofreram algum tipo de violência. Se levarmos em consideração que os dados são baseados nos casos denunciados e que uma parte significativa dos crimes sequer chega às autoridades, veremos que o número é ainda maior.


Na maioria das vezes, a agressão é cometida pelo parceiro, companheiro ou marido. Talvez por isso, expressões como “vingança” ou “crime passional” sejam tão recorrentes, o que estimula a naturalização e a romantização deste tipo de situação. Há, ainda, uma infinidade de reportagens que “justificam” o crime à luz das atitudes da mulher, culpabilizando-a e reforçando preconceitos já tão arraigados na sociedade patriarcal - de que a mulher é a única responsável pela própria segurança, que precisa “se dar o respeito” ou “se cuidar”.


A culpa não é da mulher; é do machismo

O que a imprensa noticia reflete uma sociedade fundamentada quase que exclusivamente na valorização do masculino. Não é à toa que as mesmas propagandas e comerciais de televisão que nos mostram como “donas de casa”, como “o sexo frágil” e como as únicas responsáveis pela criação dos filhos também nos retratam como um objeto sexual, que deve estar disponível e ao alcance do homem.


A formação destes estereótipos, contudo, vai além dos comerciais de cerveja e de produtos de limpeza. Reflete-se também na maneira como a mulher é apresentada nos materiais jornalísticos e informativos.
Matérias nos cadernos de esportes, por exemplo, focam nos aspectos estéticos e esquecem das conquistas. Conteúdos das editorias de Moda e Beleza estabelecem “padrões” inalcançáveis e que se distanciam completamente da realidade da mulher, reforçando opressões como a gordofobia, a transfobia, a lesbofobia, o capacitismo e o racismo.


É papel do jornalismo ser responsável e consciente na forma como representa as mulheres. Esse não é, porém, nem de longe o único problema da cobertura midiática sob o ponto de vista do feminismo. É na ausência da mulher como fonte e como protagonista de suas próprias histórias que também se fundamenta a cultura do machismo. Quase não aparecemos em questões relacionadas a pesquisas científicas e participação política, nem em posição de autoridade ou de maior responsabilidade. Ainda que entrevistadas para reportagens sobre cargos políticos ou grandes conquistas, somos constantemente questionadas sobre filhos, famílias e dicas para manter a forma.


A não valorização dos aspectos que de fato deveriam importar para as matérias se coloca no caminho da luta feminista pela igualdade de gênero, à medida em que ajuda a propagar uma imagem da mulher que vem sendo construída há mais tempo do que podemos contabilizar.


Aos meios de comunicação, cabe desconstruir visões tão distorcidas. É preciso entrevistar mulheres sobre os mais diversos temas, e não apenas sobre os assuntos considerados femininos. É preciso entrevistar especialistas em gênero. É mais do que necessário problematizar a violência contra a mulher e investigar suas causas, para levar a discussão até um número cada vez maior de pessoas.


Já existem iniciativas que contribuem com os jornalistas nesse sentido e que podem ser usadas como ferramentas para promover o debate. Propomos aqui (http://bit.ly/21XraGH) alguns direcionamentos para quem deseja pensar em um jornalismo compromissado com as questões de gênero.


Entidades feministas de diversas ordens, blogs e sites, além de organizações como o Instituto Patrícia Galvão também trazem dados que auxiliam na fundamentação das críticas. Tais recursos podem e devem contribuir para que, neste Dia Internacional da Mulher, não tenhamos mais notícias sobre cuidados com a pele ou o cabelo, mas sim acerca da problematização e do respeito que precisamos e que merecemos. (Ilustração: Sabrina Gevaerd)



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Articulista: Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta
Coletivo nasceu em Curitiba para integrar mulheres jornalistas e feministas. Seu objetivo é se tornar um espaço para a discussão sobre as intersecções entre o Jornalismo e o Feminismo.
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