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ARTIGOS

Autor: Michely Ribeiro da Silva e Luana Natielle Basilio e Silva
17/11/2015

Mulheres negras em Marcha

Mulheres negras em Marcha

O dia 18 de novembro de 2015 marcará um acontecimento histórico para o movimento de mulheres negras. Acontecerá em Brasília a “Marcha das mulheres negras: contra o racismo, a violência e pelo bem viver”, com a estimativa de participação de mais de 20 mil mulheres negras de todo o país. Desde o dia 16 de novembro várias ações, como rodas de conversa, agendas com representantes dos poderes públicos, estão acontecendo em diversos pontos da capital do país.


Desde 2011 a mobilização em torno da realização da Marcha das Mulheres Negras, movimentou mais de 500 mil mulheres negras, movimentos sociais e organizações da sociedade civil, pelo país durante quatro anos de intensas atividades, oficinas, palestras e grandes jornadas políticas e culturais em torno das demandas que atingem a vida dessas mulheres. A realização de uma marcha, idealizada e protagonizada por mulheres negras, certamente representa o quão a luta dessas mulheres tem se fortalecido pelo Brasil.


Apesar das mulheres negras representarem o maior grupo populacional, no que refere ao mercado de trabalho, por exemplo, mulheres negras recebem 56,3% do que recebem homens brancos com o mesmo grau de escolaridade (IBGE/2014). A taxa de analfabetismo é dobro entre população negra e população branca. A taxa de femicídio mostra que a violência contra as mulheres negras tem se acentuado nas últimas décadas, levando em consideração que o número de homicídios de mulheres brancas caiu enquanto a taxa de assassinato violento de mulheres negras cresceu no mesmo período (Mapa da violência/2013).


Os imaginários construídos sobre o corpo das mulheres negras no Brasil, sempre esteve relacionado como um lugar de permissão. Objetizado e coisificado, este corpo negro ficou sujeito a todas as formas de violação de direitos (latu sensu) ****. O que no início do processo escravagista colonial representava a violência sexual, física, cultural, permanece nos dias atuais, quando as desigualdades raciais e de gênero continuam como fatores determinantes no que tange ao acesso a direitos.


As mulheres negras também fizeram parte do processo de luta que culminou com a abolição da escravidão, porém foram invisibilizadas nas narrativas sobre a sociedade brasileira e na historiografia oficial. Em reconhecimento a luta das mulheres negras, foi instituído o dia 25 de julho, como dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher negra, através de lei aprovada em 2014.


O sujeito feminino, defendido pela tradição feminista eurocêntrica, esteve distante da realidade vivida por estas mulheres. A luta, neste feminismo universalista, por inserção das mulheres no mercado de trabalho (por exemplo), também não condizia com a realidade vivenciada por mulheres negras no Brasil, já que estas estavam inseridas no trabalho informal, mesmo durante a escravidão.


Dentro do movimento negro misto (homens e mulheres), também o que se percebia era que os valores do patriarcado e os imaginários sobre o corpo dessas mulheres também as colocava em situação de vulnerabilidade. A erotização e mercadologização desse corpo também estava muito presente nas práticas dentro dos espaços mistos de mobilização.


Neste sentido, a realização dessa marcha representa um importante passo na luta contra o racismo, sexismo, lesbofobia e todas as formas de discriminação e violência. A programação completa da Marcha pode ser acessada em:http://www.marchadasmulheresnegras.com/.


A concentração para Marcha do dia 18 de novembro começa às 08:30 no ginásio Nilson Nelson (Srpn Trecho 1, Brasília – DF, ao lado do estádio Mané Garrincha), de onde as mulheres negras marcham para um ato simbólico e encontro com representantes dos poderes públicos na esplanada dos ministérios.


*Luana Natielle Basilio e Silva, 30 anos, natural do Piauí, graduada em Direito pela UFPI, mestra em Direitos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba. Integrante da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras. Atua no desenvolvimento de pesquisas sobre o impacto das ações afirmativas no Ensino Superior no Brasil, Políticas Sociais, Gênero e Raça. Atualmente é assessora em Direitos Humanos da Plataforma de Direitos Humanos/Dhesca Brasil.

* Michely Ribeiro da Silva, 28 anos, natural do Paraná, graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, tem por ênfase a Psicologia Social. Atua no movimento social visando a elaboração e estruturação de políticas de saúde pública e equidade em saúde, voltadas especialmente às mulheres, populações negras, juventudes e prevenção às DST/HIV/AIDS. Está atualmente como conselheira nacional de saúde pela Rede Lai Lai Apejo - População Negra e AIDS. Atua ainda como membro da equipe de articulação da Mobilização Nacional Pró Saúde da População Negra e é filiada da Rede Mulheres Negras - PR, e integrante daArticulação de Mulheres Negras Brasileiras.

Articulista: Michely Ribeiro da Silva e Luana Natielle Basilio e Silva
Michely Ribeiro da Silva, 28 anos, natural do Paraná, graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, tem por ênfase a Psicologia Social. Luana Natielle Basilio e Silva, 30 anos, natural do Piauí, graduada em Direito pela UFPI, mestra em Direitos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba.
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