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ARTIGOS

Autor: Márcio Kieller
11/03/2015

A construção da consciência de gênero nos homens, fomento da luta por uma sociedade igualitária

O mês de março como um todo e especificamente o dia 8 de março se caracterizaram como mês e o dia da mulher. Isso acontece por que na sociedade atual ainda não temos as tão sonhadas igualdades de classe, de raça, de orientação sexual e principalmente de gênero.


Temas vitais da vida em sociedade que ainda são tratados de forma diferentes para aqueles que não são brancos, para aqueles que não heterossexuais e para os que não são do gênero masculino, ou seja, não são homens. As mulheres ainda são as que mais sofrem nessa sociedade estabelecida a partir de históricos e seculares preconceitos para com o gênero feminino, e que de quebra ainda estão vinculadas e abrangem todos os outros preconceitos. Por que um grande número de mulheres no Brasil são da raça negra e também não tem a orientação sexual culturalmente estabelecida, ou seja, não heterossexuais.


O Mercado, símbolo maior do regime capitalista, que de tudo se apropria, tem tentado se apropriar também data afirmativa do dia 8 de março, reconhecido internacionalmente como dia internacional das mulheres e tentado transformá-lo em mais uma data pura e simplesmente comercial como são nos dias de hoje a páscoa, o natal, o dias das mães, o dia das Crianças, dentre outras datas festivas e extremamente rentáveis para o próprio mercado poder lucrar.


É para que fiquemos abismados, quando vemos campanhas e propagandas de televisão, com diversas redes de lojas de departamentos fazendo propaganda do dia 8 de março e oferecendo produtos dos mais variados tipos e modelos como alternativas de presente para o dia da mulher. Um oportunismo capitalista, mercadologicamente falando.


Definitivamente o dia 8 de março tem outra característica, partindo da perspectiva histórica, sociológica e política. Afinal como dissemos acima é uma data afirmativa, que busca trazer para setores organizados da sociedade uma visão importante do empodeiramento das mulheres nas relações sociais e na necessidade de profundas discussões avanços a conquistar nas relações sociais, que ainda nos dias de hoje trata as mulheres de forma diferente, com política diferenciada de salários entre homens e mulheres, através da dupla ou tripla jornada a que são ainda submetidas às mulheres e principalmente com relação à violência social cotidiana, que parte muitas vezes dos seus companheiros contra elas e contra seus filhos.


Mudar essa situação de submissão social a que ainda estão submetidas às mulheres é fundamental, principalmente por que a sociedade atual clama por transformações e respeito às diferenças sociais de raça, credo, cor e gênero. Somente assim podemos superar o status quo das relações sociais entre homens e mulheres.


Essa superação deve ser fruto de uma mudança comportamental e cultural nas consciências, principalmente das consciências masculinas, de nós homens. Porque foi nossa consciência de gênero culturalmente construída. E inúmeras vezes chegamos a reproduzir os conceitos tradicionais quando o assunto é gênero. Chegando ao absurdo de dizemos e expressarmos a todos nas sociedades que as mulheres eram cidadãos de segunda categoria, que não tinha acesso pleno ao mercado e as relações sociais. Ou por assim dizer, subalternas nas relações sociais.


Que busca enraizar nas consciências masculinas um visual de organização social diferente, calcado nas relações compartilhadas entre homens e mulheres em todos os aspectos da vida social, seja em casa com a divisão das tarefas mais simples do dia-a-dia, nos desvestindo dos pré-conceitos de que algumas tarefas como lavar louças, lavar roupas ou limpar a casa são “coisa de mulher”. Ou ainda na educação dos nossos filhos rompermos com tradições seculares como brincar com carinho é coisa de menino e brincar de boneca é coisa de menino. Precisamos afirmar as novas gerações que brincar de qualquer coisa é coisa de criança, independente de ser menino ou menina. Além é claro de preparar nossas crianças, sejam meninas ou meninos para a vida, com base no respeito as suas escolhas, e também o respeito a todos na sociedade, independente da cor, do credo, da raça, da orientação sexual e do gênero.


No ambiente do trabalho também é fundamental modernizar as relações entre homens e mulheres. Pois nesse ambiente também se reproduz socialmente uma consciência culturalmente construída da divisão social do trabalho que descrimina e submete as mulheres a funções subalternas e a menores salários, mesmo quando exercem os mesmo cargos dos homens. Essa situação mudou com o passar do tempo, mas ainda existe nas sociedades contemporâneas mais avançadas do mundo. Outro alarmante problema enfrentado pelas mulheres dentro dos locais de trabalho é o assédio moral no ambiente de trabalho, que inúmeras vezes são consequências da recusa ao assédio sexual. O Fato de as mulheres recusarem-se leva aos homens a exercerem o seu poder hierárquico sobre elas, o que caracteriza através do Assédio moral.


O Assédio moral é um mal das organizações hierárquicas como um todo, onde as relações de poder se estabelecem e o poder é exercido sobre aquele que não o tem, ou os tem em menor grau. Ou seja, geralmente é exercido de forma hierárquica dos que ganham mais sobre aqueles e aquelas que ganham menos.


E isso se agrava mais quando se quando o assédio moral é sobre as mulheres, por que além da hierarquia econômica e corporativa, impera ainda o conceito culturalmente desenvolvido de que a mulher é o sexo frágil. O que historicamente não se comprova, pois as mulheres sempre tiveram o papel de destaque nas sociedades e modos de produção que atravessamos através dos tempos Ou seja, sempre foi submetida às piores condições de trabalho e de vida doméstica acumulando funções diversas no mundo do trabalho e na vida doméstica.


Portanto uma data fundamental que superemos a atual condição das mulheres na sociedade. Pois ainda hoje não temos a tão sonhada igualdade. As mulheres em geral ganham menos que os homens, na grande maioria das profissões; as mulheres ainda estão sujeitas a dupla jornada, quando não tripla jornada. Ou seja, trabalham tem a missão de cuidar da casa, da família, E muitas ainda tem que arranjar tempo para conseguir estudar para poder competir de melhor forma os espaços que existem na sociedade.


São as mulheres vitimas quase que cotidiana da violência domestica, da violência sexual, das ruas e também do trabalho, que é expressa através do assédio que sofrem em seus locais de trabalho.


Em muitos estados brasileiros o que observamos são que os índices das violências praticadas contra as mulheres só crescerem. Denuncias constantes de assédio moral e sexual. De violência cometida por parceiros contra suas companheiras e também contra crianças, que fazem as estatísticas subirem para níveis que não se pode aceitar numa sociedade que se diz democrática e justa.


Apesar dos esforços feitos por todas as entidades a exemplo da CUT, das entidades que representam a organização das mulheres, e até de governos que investem em campanhas de denuncia das violências que as mulheres sofrem. Ainda assim, não temos tido diminuição desses índices de violência a que estão expostas as mulheres, principalmente as mulheres jovens, as mulheres negras, as mulheres pobres.


O cerne da questão de gênero está ligado à construção de uma consciência de gênero principalmente para os homens. E fundamental que se entendam as relações sociais atuais de forma diferente das sociedades arcaicas e tradicionais onde as mulheres tinham um papel subalterno social, política e principalmente economicamente. A independência financeira das mulheres, não mudou em partes a relação de dependência econômica, mas nos aspectos, político e social ainda existem muitas dificuldades para se estabelecer outros níveis de compreensão das conquistas e avanços e que as mulheres tiveram com o passar dos tempos.


Somente entendendo a superação dessas fases históricas das sociedades através dos modos de produção é que poderemos de fato compartilhar de relações de novo tipo entre os gêneros masculino e feminino. Por isso o dia 8 de março, é um dia importante de conscientização das relações compartilhadas para construirmos um mundo socialmente mais justo, fraterno e igualitário. Essa consciência de gênero deve ser amadurecida principalmente em nós homens, para que consigamos romper com a sociedade culturalmente machista em que fomos criados.


Por isso dia da mulher, sem dúvida nenhuma, são todos os dias! Mas o dia 8 de março A construção da consciência de gênero. Assim, saúdo e expresso o meu mais profundo respeito e felicitações a todas as mulheres, em especial as mulheres trabalhadoras: As trabalhadoras bancárias; as trabalhadoras da educação e as professoras do ensino primário, secundário e superior; as trabalhadoras as petroleiras e petroquímicas; as trabalhadoras vigilantes; as trabalhadoras da agricultura familiar; as trabalhadoras do movimento dos sem terra; as trabalhadoras da alimentação; As trabalhadoras estaduais; as trabalhadoras da Saúde; as trabalhadoras da construção civil; as trabalhadoras da construção civil pesada; as trabalhadoras da Justiça federal e estadual; as trabalhadoras as policiais civis e militares; as trabalhadoras autônomas, advogadas, engenheiras, médicas, enfermeiras, dentistas, psicólogas; as trabalhadoras jornalistas e campo da comunicação; as trabalhadoras da limpeza; as trabalhadoras domésticas, as trabalhadoras das confederações das federações e dos sindicatos e das oposições sindicais filiadas a Central Única dos Trabalhadores a CUT.


Enfim, a todas as mulheres que lutam pela construção de uma consciência de gênero como fomento da busca por uma sociedade justa, fraterna e igualitária, uma sociedade socialista.


*As opiniões publicadas aqui não refletem necessariamente a posição do SindijorPR, são de responsabilidade do próprio autor. Envie também seu artigo: extrapauta@sindijorpr.org.br.
Articulista: Márcio Kieller
Vice-presidente da CUT Paraná
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