Como quase sempre, quando há interesses envolvidos, o jornalismo sofre reveses nestas eleições. Espremido entre vontades nem sempre explicitadas, desprovido de ferramentas públicas que o ajudem, realizado por jornalistas fragilizados profissionalmente, em empresas que abandonaram há tempos a perspectiva do interesse público, o jornalismo brasileiro mais uma vez se depara com seu destino.
Mais uma vez, as eleições estão polarizadas entre atores políticos distintos, alguns poderosos, mas nem todos visíveis. Os mais atuantes e ilegítimos têm sido os grandes grupos de mídia no país. Assumindo um papel partidário inaceitável e espúrio, algumas grandes redes de comunicação atuam como forças políticas e partidárias de maneira escondida, substituindo, desta maneira, a saudável e necessária política pela conspiração antidemocrática. As motivações são diversas, as maneiras semelhantes e o resultado funesto.
Seja através da redução da cobertura jornalística à repercussão de pesquisas - que a cada eleição se mostram ou mais incompetentes ou mais manipulatórias -, seja através do abandono da identificação do relevante, do que é de interesse público para o pitoresco, o banal, o sensacional ou simplesmente o que é de interesse privado da empresa jornalística ou seus aliados do ponto de vista econômico ou ideológico, o jornalismo brasileiro assumiu nos últimos dias um protagonismo exacerbado, até mesmo para sua história de intromissão na esfera política do país. Obviamente isso traz um prejuízo incalculável para a liberdade de escolha do eleitor e, consequentemente, para democracia brasileira.
Porém, o dano é maior para o próprio jornalismo, que por sua vez repercute de novo sobre a democracia. O jornalismo, que atravessa uma crise de gestão e de negócio, acossado pelas novas tecnologias, submetido a critérios cada vez mais rebaixados e menos públicos sofre, agora, golpe mortal naquilo que é a sua espinha dorsal: a credibilidade.
Em vez de atribuir ao jornalismo um papel de investigação, com objetividade e neutralidade, as empresas brasileiras, na sua maioria, capitulam para uma militância óbvia, tosca e suicida. Assumem posição, selecionam fatos, criam outros tantos e submergem na descrença cada vez maior de parcelas crescentes da população.
Independente de quem ganhar o 2º turno da eleição de 2014, o jornalismo já perdeu. E isso é péssimo. Péssimo para a profissão, péssimo para a atividade jornalística e terrível para a liberdade e para a cidadania.
Seja quem for que vença, teremos formas diferentes de negação do jornalismo, com o mesmo resultado: um retrocesso ao século 19, com a opinião substituindo a informação, os interesses privados de partidos ou grupos econômicos no lugar do interesse público e a manipulação como única maneira de formação de opinião pública.
Ao lado do histórico monopólio do sistema privado de comunicação, somou-se as redes sociais, que longe de se configurarem como mídias, isto é, mediadoras de informação, consolidaram-se majoritariamente como o local da mistificação, da calúnia e da difamação, em que pesem os elementos positivos marginais decorrentes da quantidade de dados circulantes nas redes.
Estamos encerrando o segundo turno onde é possível identificar um perigoso paradoxo em construção no país. De um lado as sete ou oito famílias apoiando de maneira desbragada e apaixonada ao candidato Aécio Neves; de outro, uma candidata a presidenta que, sem ter implementado quando podia regras públicas de comunicação, se vê na contingência de convocar uma entrevista a blogueiros escolhidos por ela. De um lado e outro é possível vislumbrar o soçobrar do jornalismo e a opção pelo ativismo.
É preciso rever tudo isso e valorizar o jornalismo livre, independente e transformador.
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