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ARTIGOS

Autor: Gibran Mendes
06/08/2013

A nossa dor no jornal

Jornalista ameaçado de morte. Jornalista agredido e preso durante o exercício de sua profissão. Jornalista assediado em seu ambiente de trabalho. Jornalista que não tem sua convenção coletiva respeitada. Jornalista mudando de País para garantir a segurança de sua família. Jornalista sendo massacrado pelas redes sociais. Jornalista sendo morto por ser jornalista.

Depois de tantas notícias ruins para a nossa profissão, esta segunda-feira (5) nos reservou uma pauta boa. A mobilização dos jornalistas da rádio CBN de Curitiba que parou não somente a redação ou a programação local dos ouvintes. Parou a cidade. Em todo o canto esse era o tema das rodas de conversa.

A saída do icônico diretor de jornalismo, José Wille, na semana passada antecedeu o estopim de pólvora que explodiu denúncias de assédio na emissora. Informações de pedidos de demissão circularam pelas redes sociais. Na redação, insatisfeitos com a ausência de informações - e medidas - sobre os casos relatados, os jornalistas cruzaram os braços durante toda a manhã. Mas tão importante quanto a repercussão do fato, foi a decisão do alto comando da rádio de atender às reivindicações da equipe. Embora não possamos negar que são fatos correlatos, com ligação intrínseca.

Enquanto isso, nós, jornalistas, acompanhávamos tudo dos nossos postos de trabalho. Serviam como fonte de informação o Twitter, Facebook, conversas com amigos e até mesmo jornais, vejam bem, jornais publicando a nossa dor que até então não saia nestes locais.

E talvez, até mesmo sem perceber, tínhamos mais que a curiosidade natural. Tínhamos também uma grande torcida por um movimento que nos representava. Vozes que saiam de uma redação não apenas para informar, mas para exigir direitos, exigir respeito. Uma projeção positiva, enfim, para nossas frustrações não resolvidas.

Os jornalistas da CBN Curitiba viraram notícia. Viraram notícia boa. E viraram - talvez também sem saber - grande exemplo para uma categoria que não está acostumada a ver sua dor sair no jornal. Os jornalistas da CNB Curitiba não apenas tornaram-se notícia como fizeram história.

Como disse o colega Álvaro Borba, ao anunciar seu pedido de demissão "biografia, a gente só tem uma". E eles escreveram uma bela página de suas biografias e do jornalismo "loucal", como ele mesmo sempre diz.

*O artigo de opinião é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Sindijor-PR.  

Articulista: Gibran Mendes
É jornalista e assessor de imprensa na CUT-PR.
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