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ARTIGOS

Autor: Alessandra Silvério
14/06/2013

A linha “editatorial” do botox jornalístico

Lamentavelmente foi-se o tempo romântico em que ser jornalista com idade acima dos 35 anos era “quanto mais velho, melhor!”. A máxima da catedrática filosofia do vinho, nos dias atuais, deu lugar à outro tipo de cultualização em algumas emissoras de televisão.

Mais do que vender a notícia como mercadoria, com os devidos e desejáveis critérios éticos e de credibilidade, certos meios de comunicação entraram na onda do culto exacerbado à beleza (física) do jornalista apresentador ou repórter do meio.

Estar com as marcas do tempo delineadas intrinsecamente no rosto ou nos cabelos (ou na falta deles), mesmo que com uma bagagem acumulada de 15, 20, 30 ou 40 anos de visceral dedicação ao jornalismo e até mesma a emissora a qual se dedicou uma vida, nos dias atuais, para alguns dirigentes de emissoras de televisão, isso pouco importa...

Na visão tecnocrática, a viabilidade rentável passou a deixar de lado os mais experientes e colocar cada vez mais “focas” (jornalistas recém-formados) nas redações e na telinha. A dualidade entre o excesso de experiência profissional e a Lei da Gravidade tornou-se uma dura e triste realidade, que por vezes, chega a abalar psicologicamente famílias inteiras que dependem do emprego dos chefes de família jornalistas para se manter.

A verdade é que o lamentável culto exacerbado, provinciano, atroz e discriminatório à beleza (e não aos neurônios pulsantes) vem deixando de lado grandes nomes do jornalismo paranaense.

A ignorância morfológica da beleza (mesmo que não necessariamente e não diretamente proporcional à inteligência) tem ocupado cada vez mais espaço na mídia e com ela tem gerado cada vez mais inserções comerciais que cultuem o belo, o novo, o fútil e o vazio cultural.

Lembro-me do tempo em que eu ainda era estudante. O jornalismo paranaense era apresentado por grandes nomes (não que hoje não seja), mas à época, a maioria dos apresentadores eram mais velhos que eu e que todos os meus colegas de classe... Eu, particularmente, era fã (como ainda sou) dos jornalistas das antigas. José Hamilton Ribeiro, Marcello Canellas, Fátima Bernardes, Ana Paula Padrão, José Raimundo, Idenilson Perin, Cláudia Vicentin, José Wille, Herivelto Oliveira, Mira Graçano, Dulcinéia Novaes, entre outros. Alguns destes ainda continuam firmes e fortes no exercício da profissão e na mesma emissora... Outros largaram “os bets” do telejornalismo ou foram para outras emissoras...

Em meados de 1997, como até hoje acontece, a Globo lançava a moda no Jornal Nacional, e lá estava a padronização do cabelo channel para as mulheres que atuavam no jornalismo de qualquer outra emissora.

Hoje, a moda nas ruas de todos o Brasil é vestir-se como a delegada da novela de “Salve Jorge”. Mas o jornalismo mudou seus padrões, os cabelos channel deram lugar aos cabelos compridos, repicados... A moda do vestuário de 20 anos atrás voltou: calças pantalona (tipo boca de sino), cintos na altura do estômago, calças cintura alta (santropé)... No entanto, o que não retrocedeu foi a ideologia dos tempos passados de valorização aos jornalistas mais antigos que brilhavam e que ainda poderiam continuar brilhando (e muito!) na telinha...

Ou seja, a ditadura da moda e do jovialismo exacerbado, com pele esticada no rosto, passou a deixar de lado grandes jornalistas, não por causa de suas limitações intelectuais e qualificações profissionais para o exercício da profissão, mas por causa das rugas e em alguns casos pela falta de cabelos.

Quero deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra os jovens jornalistas que passaram a estrear nas telinhas. Afinal, todos têm direito a um lugar ao sol, certo?! Agora, o que não é moralmente e eticamente correto é uma emissora retirar da telinha um apresentador ou repórter por estar ficando velho... Isso é desumano e cruel... Afinal de contas, as rugas e os cabelos brancos chegarão para todos nós seres humanos... Inclusive, para os que hoje são jovens e para àqueles chefes de emissoras que há tempos já ultrapassaram a linha dos 35 anos.
No cenário nacional podemos citar grandes jornalistas mais experientes em pleno exercício e à frente de grandes produções jornalísticas de peso. Alexandre Garcia, Marcelo Canellas, Chico Pinheiro, Carlos Alberto Dines, Marcelo Taz, José Wille, Herivelto Oliveira, Sandra Passarinho, Neide Duarte, entre outros, que estão acima dos 35 anos e que continuam dando show no exercício profissional, que são inegavelmente referência de profissionalismo e competência...

E se por um lado, a calvice, os cabelos brancos e as rugas estão sendo discriminadas (mesmo que nas entrelinhas editoriais), por outro lado, há de se constar que a bagagem profissional não envelhece, aliás muito pelo contrário. Certamente engrandece, dignifica e enobrece o poder cognitivo de quem a possui. No entanto, a senilidade dessa cultura provinciana e ditatorial do culto pelo "novo e belo", essa sim, empobrece o telejornalismo brasileiro e torna-o um jornalismo pouco democrático e excludente por motivos fúteis e descabidos. A beleza de se envelhecer com dignidade, respeito e reconhecimento profissional é o mínimo que os mais experientes esperam, e certamente, é o que os jovens atuais esperam daqui algumas décadas, seja em qual profissão for...

Alessandra Silvério é jornalista.

*O artigo de opinião é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Sindijor-PR.

Articulista: Alessandra Silvério
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