Em abril o Grupo já havia demitido mais de uma dezena de profissionais no Paraná; cortes implicam em acúmulos para quem fica nas redações
O Grupo GRPCom voltou a demitir jornalistas em suas emissoras de televisão, afiliadas da TV Globo no Paraná, sem qualquer empatia ou consideração face à grave crise sanitária decorrente do avanço da covid-19. Até o final da tarde desta segunda-feira (17), pelo menos seis demissões foram informadas ao SindijorPR: uma pauteira, uma apresentadora e um repórter cinematográfico em Ponta Grossa e dois repórteres e um repórter cinematográfico em Cascavel.
As demissões foram comunicadas aos trabalhadores sob a justificativa de corte de gastos, a mesma alegação prestada há cerca de um mês, quando o GRPCom demitiu mais de uma dezena de jornalistas no Estado – sendo a maioria destas situações na área de atuação do Sindijor Norte.
O SindijorPR se solidariza publicamente a todos os jornalistas que vem sendo demitidos pelo Grupo e coloca sua estrutura à disposição dos trabalhadores, desligados de seus postos de trabalho em um dos momentos mais difíceis da história recente da humanidade, especialmente no caso brasileiro.
Entretanto, não se pode ignorar os efeitos da política dos empregadores no sentido de colocar o lucro à frente da vida e também, da qualidade de informação prestada aos cidadãos. Isso porque cada um dos desligamentos representa fechamento de postos de trabalho e acúmulo de funções para os trabalhadores que ficam nas empresas.
A título de exemplo, somente no caso da RPC em Ponta Grossa, em um ano, a empresa reduziu em 31% o quadro de jornalistas: em 12 meses foram seis demissões e duas transferências (uma delas com substituição). Com isso, a emissora que mantinha 19 jornalistas em abril, conta hoje com 13 profissionais no setor.
Além disso, é preciso considerar que em 2020 os jornalistas passaram boa parte do ano com salários cortados graças às medidas de arroxo aos trabalhadores impostas pelo governo Bolsonaro, enfrentando ainda o risco diário de trabalhar presencialmente em plena pandemia.
Fechamento da produção
Outro detalhe preocupante sobre as demissões recentes no Grupo GRPCom é a informação apurada pelo SindijorPR a respeito da intenção da empresa de fechar o setor de produção em Ponta Grossa. São os produtores ou pauteiros que planejam e organizam o trabalho das equipes de rua, além de atuar na pesquisa, monitoramento e apuração dos fatos de interesse público, entre outras atribuições técnicas. Nos últimos anos, a emissora reduziu seu quadro de três produtores em Ponta Grossa para uma trabalhadora no setor, que foi demitida nesta segunda-feira (17).
Diante de tal postura da empresa, o SindijorPR se posiciona no sentido de repudiar a prática, destacando que o fim do setor de produção representa queda na qualidade de apuração das informações apresentadas à sociedade, além de fazer proliferar nas empresas situações como acúmulo e desvio de função e assédio – questões que implicam na queda da qualidade no meio ambiente de trabalho, favorecendo o adoecimento de trabalhadores e, ainda, que contrariam o discurso público da empresa acerca de suas próprias práticas.
Por outro lado, desde 2020, o SindijorPR vem monitorando o avanço nas empresas de comunicação do Estado no sentido de acabar com certas funções gratificadas dentro das emissoras de televisão. Em abril do ano passado, o Sindicato denunciou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) que a Rede Massa havia destituído o setor de produção na TV Naipi, em Foz do Iguaçu.
Oficialmente, ao MPT, a empresa alegou que a função vem sendo exercida em acúmulo pelo coordenador de Jornalismo – justificativa aceita pelo órgão, que arquivou a denúncia mesmo mediante contestação do SindijorPR. Entretanto, informações apuradas junto aos trabalhadores dão conta de que os jornalistas da TV Naipi estão ficando responsáveis por apurar e produzir as reportagens que gravam na rua, sem o recebimento do adicional de 30% estabelecido para a função na Convenção Coletiva de Trabalho - o que garante aos profissionais o direito de pleitear o recebimento destes valores por meio de ações judiciais no futuro.
Os Sindicatos de Jornalistas também já vêm estudando outras medidas no sentido de coibir o acúmulo e desvio de funções dentro das empresas de comunicação do Estado. Mesmo assim, o trabalhador que estiver acumulando atribuições de maneira irregular também deve procurar o SindijorPR e formalizar a denúncia.
Avanço nas demissões
Desde a reforma trabalhista, as empresas não são mais obrigadas a notificar o Sindicato sobre as demissões e nem tampouco, realizar as homologações mediante supervisão sindical. Mesmo assim, os Sindicatos vêm registrando as demissões que acabam sendo comunicadas pelos próprios jornalistas no Paraná.
Em 2020, o levantamento promovido pelo SindijorPR e Sindijor Norte indicou que pelo menos 70 trabalhadores foram demitidos em plena crise sanitária – uma média de cinco demissões por mês. Neste ano, os Sindicatos de Jornalistas já apuraram 20 cortes nas empresas de comunicação do Paraná.