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ARTIGOS

Autor: Célio Martins
03/05/2022

Cerco a jornalistas aumenta risco à liberdade de imprensa

Cerco a jornalistas aumenta risco à liberdade de imprensa

Na data em que se comemora o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, estudos em todo o mundo mostram que o jornalismo como bem público está ameaçado. O cerco ao exercício da profissão cria barreiras para o acesso das pessoas a informações seguras e éticas, colocando em risco a democracia e os direitos fundamentais.

As ameaças e ataques ao jornalismo profissional vêm de diversos atores e formas. Jornalistas enfrentam hoje crescente vigilância digital, a disseminação de desinformação voltada a desacreditar seu trabalho, aumento de bullying cibernético, ataques automatizados em seu trabalho e novas leis de mídia em alguns países que favorecem a censura. À esse conjunto de fatores somam-se as investidas de agentes públicos, líderes políticos, corporações privadas, de governos e de outros poderes com o intuito de tirar a independência do jornalismo voltado ao interesse público.

Relatório da Unesco – órgão vinculado à ONU encarregado de promover a liberdade de imprensa no mundo –, mostra que esse cenário preocupante se formou em meio à “expansão de novos modelos de negócios digitais, com o desenvolvimento de tecnologias de vigilância e a coleta e retenção de dados em larga escala por empresas de internet”, o que representa riscos para jornalistas e suas fontes.

É com foco nesses fatos que a UNESCO escolheu o tema “Jornalismo sob cerco digital: a era digital e o impacto na liberdade de expressão, na segurança dos jornalistas, no acesso à informação e na privacidade” para marcar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa de 2022.

O relatório da Unesco identificou uma crescente migração tanto o público de notícias quanto das receitas de publicidade para as plataformas controladas pelas chamadas “gigantes da internet”. Sem ferramentas efetivas para impedir a desinformação (algoritmos das principais redes sociais ainda não conseguem distinguir de maneira eficiente publicações reais e falsas), essa nova realidade facilitou a precarização do jornalismo profissional, com o agravamento dos ataques online e físicos a jornalistas e demais profissionais de imprensa.

Dados do Centro Internacional para Jornalistas, analisados pela Unesco, revelam que dois terços dos jornalistas se sentem menos seguros em seus empregos como resultado das pressões econômicas. O fechamento de redações e os cortes de empregos criaram um vácuo significativo no cenário da informação de qualidade, deixando o campo aberto para que conteúdos falsos (fake news) sejam espalhados rapidamente nas mídias sociais.

Em apenas um mês, em setembro de 2020, em meio à crise de Covid-19, mais de 1 milhão de postagens circularam no Twitter com informações imprecisas, não confiáveis ou enganosas relacionadas à pandemia. Os dados são do Observatório de Infodemias Covid-19 da Fondazione Bruno Kessler. Do início da pandemia até agosto de 2021, mais de 20 milhões de publicações foram removidas do Facebook e no Instagram por promoverem informações falsas relacionadas com ao coronavírus.

A violência atinge especialmente mulheres jornalistas. Pesquisa da Unesco publicada 2021 mostra que sete em cada dez mulheres jornalistas já sofreram violência online. Uma em cada cinco relatou ter sofrido violência offline que tinha conexão com as ameaças recebidas em plataformas digitais.

No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), juntamente com entidades sindicais e outras instituições ligadas ao jornalismo, tem reunido esforços para acompanhar e combater ataques e agressões a jornalistas, além de propor ações para coibir ações que buscam a precarização profissional e cercear o exercício profissional.

O dossiê "Ataques ao Jornalismo e ao Seu Direito à Informação" é uma das inciativas da Fenaj, em parceria com o Observatório da Ética Jornalística (objETHOS), vinculado ao Departamento de Jornalismo e ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (PPGJOR) da Universidade Federal de Santa Catarina.

O dossiê tem como base o "Relatório de Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa 2021", elaborado anualmente pela Fenaj desde 1998, e analisa aspectos que envolvem o ambiente hostil para a atividade jornalística no Brasil.

Em vários momentos da história, as pessoas de todo o mundo puderam comprovar o papel fundamental de jornalistas profissionais no fornecimento de informações de interesse público. Agora, em meio ao agravamento das ameaças aos jornalistas e à liberdade de imprensa, mais do que nunca é preciso garantir o acesso à informação segura e ética.

*Célio Martins, jornalista profissional desde 1981, atuou em vários veículos de comunicação do Brasil. Atualmente é colunista do jornal Gazeta do Povo e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR).

Articulista: Célio Martins
Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná e jornalista da Gazeta do Povo
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