Se o jornalismo está mudando, o 8º Congresso Paranaense de Jornalistas resolveu encarar essa transformação. No auditório do Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a mesa-magna “Inteligência Artificial e os novos paradigmas do jornalismo” colocou na roda um tema urgente: o que acontece com a profissão quando máquinas começam a escrever?

Com um auditório atento, o debate reuniu nomes de peso como Ana Paula Mira, Manoel Fernandes e João Victor Archegas, sob mediação do professor Renan. O encontro integra a programação dos 80 anos do SindijorPR, e trouxe à tona uma pergunta que ronda todas as redações hoje: onde termina a eficiência da IA e começa a responsabilidade humana?
Entre curiosidade e alerta: a IA entra em pauta
O cenário não poderia ser mais atual. Em tempos de inteligência artificial generativa, aquela que escreve, resume, sugere títulos, o jornalismo busca entender: isso é só uma ferramenta a mais, ou o começo de uma reconfiguração profunda?
Ao longo do debate, ficou claro que não se trata de uma resposta simples. Como apontou o próprio SindijorPR na elaboração do Congresso com temas como “algoritmos, pejotização e IA”, tópicos centrais para pensar o futuro da imprensa e da democracia no Brasil.
Vozes do painel: ponderações, críticas e caminhos
Ana Paula Mira abriu o jogo com uma visão equilibrada: não dá pra demonizar a tecnologia, mas é preciso cuidado. Para ela, “eficiência não pode atropelar credibilidade”. Em outras palavras: adianta publicar mais rápido se a apuração está pela metade?
Manoel Fernandes seguiu numa linha mais pragmática. Reconheceu que a IA pode facilitar tarefas mecânicas, como organizar dados ou buscar informações, mas reforçou: jornalismo se faz com gente. Gente que pergunta, interpreta, contextualiza. “Estamos na era dos jornalistas e dos filósofos”, disse, defendendo o que chamou de “jornalismo humanizado”.
Já João Victor Archegas trouxe a lente jurídica: se há conteúdo humano sendo usado para treinar sistemas de IA, onde estão os direitos dos autores? Ele alertou para a ausência de regulamentações e para a necessidade urgente de políticas públicas que protejam os criadores, inclusive jornalistas.
Do lado da mediação, o professor Renan puxou a conversa para um ponto central: se deixarmos que a IA conte as histórias sozinha, quem vai proteger o espaço da dúvida, da verificação e da diversidade de vozes?
Tensões no ar: IA é ferramenta ou ameaça?
O debate deixou claro que há um cabo de guerra em curso e ele envolve mais do que produtividade. Alguns pontos geraram consenso (e preocupação):
-Substituição vs. complementação: a IA pode ajudar, mas até onde? Qual o limite entre apoiar e tomar o lugar do jornalista?
-Transparência algorítmica: se a IA sugere uma manchete, com base em que dados ela fez isso?
-Direitos autorais: sistemas são treinados com textos jornalísticos, mas quem escreveu esses textos recebe crédito? E remuneração?
-Ética e “alucinações”: ferramentas que geram textos também erram — e às vezes, feio. Quem responde por isso?
-Falta de regulação: a tecnologia corre, a legislação anda. O vácuo legal deixa jornalistas vulneráveis.
Saídas possíveis: o que pode (e precisa) ser feito
Apesar das tensões, os debatedores também apontaram caminhos. Entre eles:
* Criar códigos de conduta para uso de IA nas redações, com limites claros.
* Garantir remuneração e crédito para autores cujos textos alimentam sistemas automatizados.
* Promover a alfabetização digital crítica entre jornalistas — porque quem entende como funciona, se protege melhor.
* Pressionar por marcos regulatórios que respeitem a liberdade de imprensa e os direitos dos criadores.
IA no jornalismo: repensar, mas não recuar
No fim das contas, a mesa-magna não foi um manifesto contra a tecnologia — mas um convite à reflexão crítica. O tom geral foi de um otimismo cauteloso: a IA pode, sim, ser útil. Mas só se vier acompanhada de ética, responsabilidade e transparência.
O jornalismo, dizem os especialistas, continua tendo um papel insubstituível: o de questionar, verificar, traduzir. Mesmo quando a máquina escreve, é o humano que entende o que realmente importa.
E o SindijorPR já deixou claro qual é o próximo passo: orientar a categoria, fortalecer o coletivo e garantir que a inteligência artificial seja parceira — e nunca substituta — da profissão.
Realização
O 8º Congresso Paranaense de Jornalistas só se tornou possível graças à parceria e ao apoio inestimável de diversas entidades e empresas, que acreditam na força e na relevância do jornalismo paranaense: Bebidas Campo Largo, Copel, CUT Paraná, FETECPR, Mabu Hotéis, OAB PR, Sacod UFPR, Sanepar, Senge-PR, Sicredi, Sindicato dos Bancários de Curitiba, Sismuc, Suli Confeitaria, Teatro Guaíra e Tudo Menos Glúten.
Acesse aqui o vídeo da mesa Inteligência Artificial e os novos paradigmas do jornalismo
Confira mais fotos do 8º Congresso Paranaense de Jornalistas no Flickr do SindijorPR