Na próxima terça-feira (24/06), jornalistas do Paraná vão deliberar, em assembleia online, sobre uma proposta que escancara a contradição dos empresários da Comunicação. Na mesma semana em que o governo estadual comemora o crescimento de 5% do PIB paranaense — quase o dobro da média nacional e acima do desempenho dos EUA —, os donos dos veículos oferecem apenas o básico: a reposição da inflação acumulada (5,32% pelo INPC), retroativa a maio.
Nada de ganho real. Nenhuma valorização concreta da categoria. E, como de costume, a proposta vem acompanhada de uma cláusula de pressão: só será considerada válida se aprovada integralmente. Recusada em partes, volta-se à estaca zero com as propostas iniciais — ainda piores.
A assembleia será realizada de forma simultânea nas duas bases sindicais, SindijorPR e Sindijor Norte PR. A primeira chamada será às 19h30; a segunda, às 20h, com qualquer número de presentes. O link de acesso será divulgado pelos canais oficiais dos sindicatos.
A conta não fecha
Esta já é a quarta versão apresentada pelos patrões na negociação da Convenção Coletiva 2025/2026. Ao longo das rodadas, os sindicatos conseguiram barrar propostas escandalosas como o fim do anuênio, o parcelamento do reajuste, o rebaixamento do reflexo sobre horas extras e o congelamento do piso salarial.
Ainda assim, o que resta sobre a mesa está longe de atender às necessidades da categoria. A proposta atual ignora a realidade enfrentada por quem mantém o jornalismo vivo no estado.
Segundo levantamento feito pelo SindijorPR e Sindijor Norte PR:
-84% das e dos jornalistas paranaenses não estão satisfeitos com seus salários.
-70% afirmam não conseguir pagar nem as despesas básicas com alimentação, luz e água com o que recebem das empresas.
Os salários estão defasados em 15,73% — resultado da inflação do último ano (5,32%) somada à perda de 10,41% imposta durante a pandemia e nunca mais recuperada.
“Não fabricamos dinheiro”? Vamos aos números
Durante uma das mesas de negociação, um dos representantes patronais soltou a frase: “Não fabricamos dinheiro.”
Fato. Mas os empresários da Comunicação do Paraná têm recebido, ano após ano, valores milionários — e, em alguns casos, bilionários — de fontes públicas e privadas.
-Desde 2015, os quatro principais grupos de comunicação do estado deixaram de pagar R$ 756,9 milhões em impostos federais graças a renúncias fiscais.
-Desde 2020, já receberam R$ 488,1 milhões do Governo do Paraná em contratos de publicidade institucional.
-Isso sem contar o que entra de prefeituras, câmaras municipais e da venda de anúncios comerciais.
Segundo dados do Cenp-Meios, os investimentos em mídia cresceram 16% em 2024 — um salto de R$ 10 bilhões. Só a TV concentrou 39% desses recursos.
De acordo com a Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (Aerp-PR), os aportes em TV aberta passaram de R$ 6,07 bilhões em 2022 para R$ 6,73 bilhões em 2024. “A TV tá on”, comemora a própria entidade.
A conclusão do presidente do Cenp, Luiz Lara, ao portal Meio & Mensagem, é clara: o mercado publicitário está em plena recuperação pós-pandemia.
O que acontece?
Com a economia crescendo, verbas públicas fluindo e o setor de mídia se recuperando, por que os patrões seguem oferecendo tão pouco a quem produz conteúdo, apura, edita e publica a informação que circula no Paraná?
Por que celebrar o PIB estadual que cresce mais que o da maior economia do mundo, mas se negar a valorizar quem sustenta as redações?
Por que insistir em tratar a mão de obra jornalística como um custo a ser enxugado — e não como uma atividade essencial que merece remuneração digna?
Mais difícil ainda é ouvir que “não há margem para ganho real” enquanto circulam, nas redes sociais, fotos de donos de veículos curtindo viagens a Paris, Las Vegas e outros destinos internacionais — muitas vezes entre uma rodada de negociação e outra.
O que acontece? A conta não fecha.