As vezes é até difícil de acreditar, parece que o tempo passa
cada vez mais rápido, ainda mais quando são dias de suor e luta, e assim se
completa, neste 12 de fevereiro, um ano da data em que trabalhadores(as) da
educação e de outras categorias comemoravam a vitória de uma batalha que
parecia ser impossível de vencer: a retirada dos dois PLs que tramitavam na
Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), em regime de Comissão Geral.
Para relembrar um ano da ocupação da Alep, hoje (12), a APP-Sindicato, em parceria com o SindijorPR, realizou uma coletiva de imprensa com os presidentes das entidades, professor Hermes Silva Leão (APP), Gustavo Vidal (SindijorPR) e Petruska Niclevisk Sviercoski (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná). Os presentes falaram alguns pontos conquistados graças à mobilização de milhares de educadores e servidores públicos que estavam na ocupação.
Em suas falas iniciais, os três dirigentes ressaltaram a
importância do trabalho dos jornalistas na cobertura da greve dos educadores.
“Os profissionais da imprensa realizaram um trabalho comprometido com a
verdade, independente do veículo que estavam vinculados, a gente sentiu muito a
presença do colega trabalhador alí”, afirmou Hermes.
Gustavo reforçou o laço entre os sindicatos e também destacou
o trabalho da imprensa, sabendo das barreiras que os profissionais que
trabalham em veículos tradicionais enfrentam para abordar as lutas dos
sindicatos. “A gente apoiou a greve antes, durante e depois. Sabemos dos
limites para cobertura dos movimentos sociais que muitos jornalistas enfrentam,
mas, mesmo assim, o trabalho foi bem feito, a cobertura foi isenta e fundamental para fortalecer a luta”.
Petruska, também destacou a relevância do trabalho da
imprensa para fortalecer os movimentos de luta dos trabalhadores por seus
direitos e lembrou que 2015 foi um ano difícil para todos os servidores
públicos do Paraná: “Esta é uma data muito importante para nós, já
que representa a vitória dos trabalhadores em relação a vontade do patrão.
(...) Pelo menos naquele dia, conquistamos respeito pela nossa luta, pela nossa
união e mobilização.”
Além disso, Hermes também abordou temas que envolvem a categoria,
como a conquista judicial da APP na qual obriga o governo do Estado a divulgar
os valores corretos dos salários dos(as) educadores(as), após ter dito que
professores(as) ganham mais que prefeitos de 111 cidades no Paraná. Também
apontou a Operação Quadro Negro, que investiga o suposto desvio de mais de 20
milhões de reais de obras em escolas por todo o Estado.
Relembre os fatos
Em novembro de 2014 educadores(as) na Assembleia Estadual da
APP, em Apucarana, já previam o ano intenso que seria 2015, tanto pela
reeleição do governador Beto Richa (PSDB) quanto pelas medidas de austeridade
que ele já vinha promovendo no estado para cima da população e dos(as)
servidores(as) públicos. Uma nova Assembleia ficou marcada para fevereiro com o
objetivo de instalação de uma greve geral por tempo indeterminado.
No dia 07 de fevereiro de 2015 uma grande marcha tomou as
ruas de Guarapuava, eram os(as) professores(as) e funcionários(as) de escola,
anunciando que a greve começaria no dia 09, com muito mais mobilizações e um
acampamento no Centro Cívico em Curitiba, por tempo indeterminado. Daí para
frente tudo aconteceu de forma muito rápida.
A categoria estava cansada das artimanhas do governo e
exigia, além da rejeição ou retirada dos PLs 06/2015 e 60/2015, o pagamento
imediato dos salários em atraso (PSS, 1/3 de férias, auxílio alimentação,
conveniadas), a retomada das negociações sobre os temas educacionais,
organização escolar e do Porte das Escolas.
No dia 10, uma terça-feira, as galerias da Alep estavam
lotadas de servidores(as) e do lado de fora, milhares acompanhavam a votação.
No momento em que os(as) deputados(as) aprovaram o requerimento que transformou
a sessão em Comissão Geral, a indignação tomou conta e, sem alternativa, os(as)
servidores(as) ocuparam a Assembleia e a sessão foi suspensa. Barracas foram
instaladas na rampa, água e cobertores foram distribuídos para aqueles e
aquelas que estavam no plenário e nos arredores. A ideia era continuar até o
governo reabrir, de fato, as negociações e debater com os(as) servidores(as)
essas medidas que seriam implementadas no Paraná.
Durante o dia 11 a ocupação foi mantida e não houve sessão.
Na quarta-feira, 12 o desafio foi impedir que os(as) deputados(as) entrassem na
Alep para dar continuidade a sessão. Muitos(as) madrugaram em frente aos
portões, todo o esforço foi suficiente para que a votação não acontecesse
naquele dia. Mas o inesperado aconteceu, os(as) deputados(as) tiveram a coragem
de chegar ao Centro Cívico de camburão e com uma escolta armada, cortar as
grades e entrar pelos fundos para, no restaurante da Assembleia, dar
continuidade à votação.
“Eu não acreditava no que estava vivendo, foi um momento que
eu chorei um monte, porque eu olhava para aquele BOPE ali eu falava: gente, eu
não acredito, é isso? Eles cortaram a grade não tinha entrada. Eu via nossa
vitória porque nós realmente conseguimos fechar tudo e eles não tinham como
entrar. Então por esse motivo, eles tiveram que fazer um jogo mais uma vez
absurdo e imundo”, conta Simone Cardoso de Moraes, professora e dirigente do NS
Metronorte.
Acuados(as), 44 deputados(as) deram início a sessão,
enquanto lá em baixo, manifestantes atravessaram os portões da Casa do Povo
entoando o hino nacional. A mando do secretário de Segurança Pública do Estado,
Fernando Francischini, a Tropa de Choque da Polícia entrou em ação. Balas de
borracha e bombas de efeito moral foram jogadas em meio aos(as) servidores(as).
“Nós estávamos lá, no grito, eles vieram na porrada”, conta Valderes Aparecida
Bueno, professora aposentada do NS Francisco Beltrão. Parecia o fim, mais de 50
mil trabalhadores(as), revoltados(as) gritavam em coro: Sem violência!
A situação ficou tão caótica que os(as) deputados(as)
viram-se obrigados(as) a suspender a sessão e o governo foi forçado a pedir a
retirada do “Pacotaço”. Lá fora, a chuva caia e lavava as lágrimas de fracasso
que se transformaram em sorrisos de vitória. “Mesmo com todas as dificuldades
nós somos absolutamente vencedores. Nós vencemos uma batalha absurda contra a
pretensão do governo todo poderoso, contra a prepotência, contra o
neoliberalismo e a meritocracia. Eles disseram para nós que as salas de aula
com 55 alunos é importante porque até o final do ano trinta desistem. Mas eles
apostam no fracasso enquanto nós apostamos na vitória”, diz Valderes indignada.
Os PLs retornaram à Casa Civil e viriam ainda gerar muita
polêmica. Esta foi apenas a primeira semana de uma greve que duraria 29 dias e
que retornaria em abril, com um massacre do governo ainda mais truculento para
cima dos(as) servidores(as) públicos.
:: Assista aqui ao documentário “Luto pela Educação” que conta toda a luta travada pelos(as) educadores(as) paranaenses em 2015.