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20/08/2014

O valor do Jornalismo e o valor do jornalista

O valor do Jornalismo e o valor do jornalista

Se a internet provoca um momento de reorganização do mercado da comunicação que pode reordenar a própria produção jornalística, como já vem sendo observado em casos que apontam para uma proposta alternativa e sustentável, por outro, aprofundam-se dificuldades para quem hoje trabalha em meios convencionais.


A perda de audiência da mídia convencional diante da concorrência da internet e das tv’s a cabo, o ataque ao diploma de jornalista e a dificuldade em relacionar o plano teórico ao prático no jornalismo comercial são algumas dessas crises que se aprofundam. Dentro deste modelo de negócio todos estes fatores contribuem para o desprestígio da profissão e sua consequente desvalorização.


Mas nenhuma supera a redução da qualidade de vida dos profissionais em veículos de comunicação ou nas assessorias. É o que “espanta” o bom profissional desta atividade, o que provoca uma sobrecarga de trabalho e de responsabilidades que resultam em equívocos ou controles editoriais que afetam a ética profissional e derrubam a credibilidade deste campo de conhecimento.


Ao invés de pensar saídas para os negócios, os donos da mídia têm optado pela visão míope e unidirecional de que jornalismo deve servir a interesses particulares (ao lucro, principalmente), e mascaram suas intenções pela defesa hipócrita do interesse público. Em qualquer ocasião que se instaura uma transição no mercado da comunicação, as primeiras decisões empresariais se voltam contra os trabalhadores. A tendência não é pensar alternativas para o negócio, mas reduzir direitos, burlar convenções e leis, cortar postos de trabalho, diminuir os pisos salariais, ou que se submetem às divisas de grupos políticos em troca do silêncio ou do elogio. Pra não falar daqueles que continuam faturando alto, mas aproveitam a “onda de pessimismo” para tirar proveito.


Significa que não temos bons jornalistas atuando nos veículos de comunicação do Paraná? Não. Óbvio que temos bons profissionais, do contrário não estariam sendo premiados e tendo o reconhecimento que têm por parte de instituições e da própria sociedade. Mas mesmos os que permanecem nas redações, apesar de todas as adversidades, sabem que a realidade tem sido dura para quem optou em fazer o que realmente gosta.


Contraditoriamente, as empresas não têm reconhecido o esforço dos profissionais e um olhar generalizado nos leva a concluir que o que ocorre é justamente a desvalorização do jornalista por dentro das redações. A começar pelo salário, que raramente está acima do piso salarial de R$ 2.605 e pelas diversas irregularidades cometidas por praticamente todas as empresas de comunicação no estado que representam algum tipo de redução de direito.


Ou seja, não basta fazer bom jornalismo e, nesse sentido, a defesa do aumento salarial, assim como dos direitos sociais previstos em convenção coletiva não é apenas a defesa imediatista e corporativa dos jornalistas. Ao melhorar as condições de vida dos profissionais, o Jornalismo passa a ser uma atividade atrativa. Isto é, capaz de absorver bons profissionais e de mantê-los na profissão com perspectiva de adquirir e transmitir experiência e se aposentar fazendo o que gostam.



A consequência disso é a presença de profissionais experientes, motivados para fazer um bom jornalismo e capazes de traçar um olhar crítico sobre a realidade, de modo a romper com o senso comum e de estabelecer uma vigilância comunitária e saudável entre os colegas. Inverteríamos a lógica atual de modo que o Jornalismo passaria a uma profissão deontologicamente constituída por valores de quem o faz e, deste modo, capaz de ser valorizado como atividade fundamental para a vida em sociedade.



Nos últimos meses as diferenças de interesse entre jornalistas e empresários se recrudesceram como é de se esperar nas campanhas salariais. O impasse que vivemos agora, no Paraná, quase 5 meses sem conseguir assinar uma CCT com avanços, é o resultado dessa visão distorcida dos empresários sobre o que é Jornalismo.



No terreno movediço de crise para o modelo de negócios jornalísticos, os jornalistas têm sido prejudicados diretamente pela redução das suas condições de vida e por encarar uma limitação mediocrizada imposta pelas condições de produção sobre sua atividade profissional. Indiretamente, o problema se reflete na sociedade, que vem perdendo sua capacidade de perceber o valor do Jornalismo e de quem constrói a notícia.

Fonte:SindijorPR
Gralha Confere TRE