O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) participou, nesta terça-feira (26/11), de audiência pública no Ministério Público do Trabalho (MPT), em Curitiba, para discutir equidade racial no mundo do trabalho. O evento não teve encaminhamentos práticos, mas apresentou provocações para empresários e lideranças que estavam no auditório. A questão é de interesse da categoria dos jornalistas, uma vez que mesmo no Paraná, o estado menos branco do Sul do Brasil, o número de jornalistas negros em atividade não chega a 15%. Os povos indígenas não contaram com representação na audiência.
Ainda nesta semana o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou um levantamento que aponta que trabalhadores negros da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) têm rendimento 39% menor que dos brancos. Os dados são baseados em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para mitigar a diferença, conforme as discussões da audiência, políticas afirmativas precisam ser adotadas por empregadores. Ao longo das discussões, para regionalizar a pesquisa do Dieese, o SindijorPR propôs um esforço conjunto entre o MPT, Federação do Comércio (Fecomércio) e Federação das Indústrias (Fiep) para analisar dados de disparidade salarial entre pretos e brancos e a partir daí criar indicadores para equalizar a renda.
A presidenta do SindijorPR, Aline Reis, durante sua intervenção na audiência, pontuou um dos entraves às políticas antirracistas no mercado de trabalho. “Aqui na mesa nós temos dois brancos, os negros são do Instituto [Afro Indígena], porque provavelmente as empresas aqui representadas não têm líderes pretos nessa posição”, expôs, ilustrando a importância de ações antirracistas concretas. “É muito bonito o discurso, como os que tivemos aqui, sobre os jovens negros sonharem, mas, muito provavelmente, esses mesmos jovens negros vão ganhar 35% a menos que os colegas brancos, fazendo a mesma função”, observa.
O evento teve coorganização do Instituto Afro Indígena e também incluiu um momento voltado para discussão sobre empreendedorismo, com participação de representante da Fomento Paraná. A íntegra da audiência está disponível aqui. Do evento não saiu documento, mas o diálogo entre as instituições participantes será mantido.
Há diversidade no jornalismo paranaense?
Segundo os dados do Paraná extraídos da pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro 2021, realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 83,7% dos profissionais de jornalismo paranaenses são brancos, enquanto 12,2% se autodeclaram como pardos e 2,3%, pretos. Outros 1,3% são amarelos, enquanto indígenas que trabalham como jornalistas correspondem a 0,5%. Além da diversidade nas redações, esse cenário também aponta para um déficit em termos de representatividade da população negra e indígena na mídia, o que, por sua vez, também impacta a perspectiva com que são produzidas as notícias que chegam à população.