esqueci minha senha / primeiro acesso

notícias

03/12/2020

Empresas intensificam demissões de jornalistas durante a pandemia de Covid-19

Levantamento realizado pelos Sindicatos de Jornalistas do Estado indica que 61 profissionais já foram dispensados em 2020. O volume é maior no interior e atinge mais mulheres e profissionais que não ocupam cargos de chefia


Falta menos de um mês para o final de 2020 e o levantamento realizado pelos Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) e do Norte do Paraná (Sindijor Norte) aponta para um cenário complicado envolvendo a categoria: em quase 12 meses, 61 jornalistas foram demitidos das empresas de comunicação do Estado – a maioria durante a pandemia de Covid-19. A média é de cinco trabalhadores dispensados por mês.



Os líderes de demissões são o GRPCom, com 21 desligamentos, e o Grupo Massa, com 15 profissionais cortados de seus quadros. Em um ano marcado pelo enfrentamento à pandemia de Covid-19 e em que o jornalismo foi reconhecido como atividade essencial e ainda, em que as empresas puderam cortar salários supostamente para preservar empregos, estes dados ilustram o desrespeito aos jornalistas paranaenses.


Os números, entretanto, podem ser ainda mais expressivos, tendo em vista que desde a contrarreforma trabalhista as empresas não são mais obrigadas a comunicar os Sindicatos e o Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre demissões. Com isso, entram nestes dados apenas os casos comunicados pelos próprios jornalistas desligados das empresas e outros que os Sindicatos apuraram, inclusive, por meio de denúncias levadas ao MPT.


O maior volume de demissões se deu no interior do Paraná: foram 34 casos contra 27 registrados nas empresas da Capital. Outra questão que chama a atenção é o fato de jornalistas terem sido demitidos em plena vigência de acordos de redução de salários e jornada, ferindo a relativa estabilidade provisória conferida pela MP 936/2020 e que foi convertida na lei 14.020/2020.



Além dos trabalhadores demitidos em meio ao período de estabilidade (as medidas governamentais permitem isso mediante uma indenização módica), é necessário destacar as demissões realizadas pelo GRPCom depois que se encerrou o período de estabilidade provisória dos jornalistas que sofreram cortes de salário em 2020. Vale ressaltar que os cortes mais recentes no grupo aconteceram nesta semana.


Como ainda existem profissionais com acordos para redução de salários e jornada vigentes, os Sindicatos de jornalistas monitoram o risco de que mais demissões venham a ocorrer com o fim dos períodos de estabilidade, especialmente, a partir de janeiro de 2021. “Nós estamos atentos e não vamos tolerar que mais prejuízos sejam imputados à categoria que, em plena pandemia, manteve-se comprometida e em atividade, mesmo com salários cortados e sem reajuste”, declara o diretor-presidente do SindijorPR, Gustavo Henrique Vidal.


A presidente do Sindijor Norte, Ticianna Mujalli, também lembra que parte dos profissionais continuou trabalhando mesmo com o risco de contrair Covid-19. “Muitos jornalistas que mantiveram a atividade presencial procuraram os Sindicatos para denunciar as condições de trabalho. Em boa parte das situações, as empresas só adotaram as medidas necessárias após a intervenção dos Sindicatos”, observa.


Precarização

Além de observar os casos em que pode ocorrer demissão coletiva, os Sindicatos também buscam avaliar as situações em que o desligamento de profissionais resulta em aumento da precarização das condições de trabalho como, por exemplo, quando acontece acúmulo e/ou desvio de função em decorrência da falta de profissionais habilitados para determinadas atividades.


Segundo a cláusula 20ª da Convenção Coletiva de Trabalho 2018/2020, há dispensa coletiva quando: empresas com mais de 50 jornalistas demitem pelo menos 15 profissionais simultaneamente; e empresas com menos de 50 jornalistas desligam cinco profissionais de uma só vez.


Vale ressaltar, entretanto, que a atual CCT está vencida desde abril e que ainda não existe uma nova Convenção estabelecida em função de o processo de negociação, por força das incontáveis idas e vindas dos patrões, estar se arrastando há meses. Situação que é extremamente desfavorável aos trabalhadores e que tem gerado um vácuo que, inclusive, vem sendo aproveitado de maneira inadequada pelas empresas.


Mulheres são mais penalizadas

O número de mulheres demitidas foi maior do que o de homens desligados tanto no interior quanto na capital: elas sofreram 37 demissões contra 24 deles. Os dados, infelizmente, confirmam a tendência apontada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) realizada no início da quarentena, quando sete milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho – por terem sido demitidas ou por terem se desligado para cuidar de filhos em idade escolar e/ou de outros familiares que passaram a necessitar de cuidados adicionais devido à pandemia.



Diretora de Interior do SindijorPR e uma das representantes do Paraná na Comissão Nacional de Mulheres Jornalistas, Aline de Oliveira Rios destaca que o atual cenário enfrentado pelas mulheres trabalhadoras é de absoluto retrocesso. “Especialistas já têm alertado que, apesar de serem a maior parte da população, as mulheres são atualmente a minoria no mercado de trabalho nacional. Isso não se verificava há décadas”, observa.


Fatores como a divisão sexual do trabalho – em que as atividades domésticas e de cuidados são historicamente relegadas às mulheres – e o próprio preconceito praticado pelo mercado, que geralmente paga menos para as profissionais e também não mantém políticas equitativas de acesso aos postos estratégicos e de chefia, contribuem para piorar essa situação. “A nossa avaliação é que, principalmente para as mulheres, jornalistas ou não, existe uma grande possibilidade de os efeitos da pandemia se manterem severos por mais tempo do que o necessário para enfrentar a crise. Trata-se de um retrocesso profundo e com efeitos perversos”, considera Ticianna, que também representa o Paraná na Comissão Nacional de Mulheres Jornalistas.



Demissões por empresas

-GRPCom 21

-Grupo Massa 15

-TV Icaraí 11

-Grupo RIC 03

-Rádio CBN 02

-Band 02

-Impressos e portais 02

-Assessorias 02

-Outras rádios 03


Demissões por região

-Capital 27

-Interior 34


Demissões por gênero

-Mulheres 37

-Homens 24


Demissões por função

-Chefia 09

-Outras 52

Autor:SindijorPR
Gralha Confere TRE