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15/08/2019

Livro "Cativeiro sem fim" conta história de crianças sequestradas na ditadura

Foto: Reprodução/Facebook


A história da ditadura e das crueldades cometidas por este regime durante as décadas de 60 e 70 no Brasil ganhou contornos mais assustadores com o lançamento do livro “Cativeiro Sem Fim”, do jornalista Eduardo Reina, no qual apresenta a história de crianças e adolescentes que foram sequestradas durante a ditadura em nosso País. Reina esteve hoje em Curitiba, a convite do Instituto Edésio Passos, para lançamento e palestra, frente a uma plateia de estudantes universitários, advogados, historiadores e representantes de entidades como a Comissão Estadual da Verdade, Ordem dos Advogados do Paraná (OAB) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR).


Segundo o jornalista, a possibilidade de haver crianças retiradas de seus pais no tempo da ditadura era um assunto que o incomodava desde os tempos em que fazia jornalismo, na universidade Metodista de São Paulo, onde se formou em 1985. “Fala-se tanto em sequestro de bebês na Argentina, onde já foram registrados pelo menos 500 caos, no Chile, Paraguai, Bolívia, e no Brasil não fala-se nisso? Tem alguma coisa errada nisso. Era o que eu pensava”, conta.


Ele só deu início a esse trabalho, no entanto, em 2015. Primeiro ele fez o livro de ficção “Depois da Rua Tutóia” no qual aborda justamente a história de um bebê que é retirado de um militante político preso e entregue para ser adotado por um empresário paulista que financia a repressão. “ Foi uma forma de incentivar a denúncia de casos”, diz. Uma das coisas que ele descobriu, em suas investigações, é que na América do Sul os militares sempre atuaram em conjunto. Na Argentina, por exemplo, foi descoberto um manual de procedimentos para quando os militares prendiam pais com filhos. “Os recém-nascidos até os seis anos poderiam ser adotados. Acima desta idade, a ordem era matar porque eles consideravam que as crianças já estavam contaminadas com a ideologia dos pais”, revela.


Como já era de se esperar, a solenidade de lançamento ocorreu em clima de bastante emoção. “São dois assuntos que chocam muito. “A repressão em si, a tortura de pessoas já é um assunto triste. Mas quando trata-se de crianças, que foram tiradas de seus pais só porque estes eram contra o regime em vigor é de uma crueldade sem tamanho”, avalia a diretora de fiscalização e exercício profissional do SindijorPR, Maigue Gueths, presente no evento.


Organizada pelo Instituto Vladimir Herzog e com prefacio do jornalista Caco Barcellos, a obra é resultado de extensa investigação. Eduardo Reina descobriu 19 casos de sequestro de filhos de militantes de esquerda ou de pessoas contrárias ao regime ditatorial, 11 ligados diretamente à Guerrilha do Araguaia, outros sete no Rio de Janeiro, em Pernambuco, no Mato Grosso e um caso no interior do Paraná.


Um destes casos é o de Rosângela Serra Paraná, que fez um relato emocionante durante o encontro em Curitiba. Ela foi retirada dos pais logo que nasceu, não se sabe se no Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. Foi entregue a Odyr de Paiva Paraná, um ex-soldado do Exército que chegou a trabalhar como motorista do ex-presidente Ernesto Geisel. Adotada por ele, só em 2013, por meio de uma publicação no Facebook que alertava que ela não era filha natural daquela família, que começou a ir atrás de sua história. “ Até hoje eu não sei da minha história, não sei o dia do meu aniversário, não sei onde nasci, não sei quem é minha mãe e meu pai”, desabafou. Hoje, debilitada física e emocionalmente procura seus pais biológicos.


Reina conta que, após levantar estes 19 casos de sequestro, já foi contatado por mais 22 pessoas que dizem ter sido vítimas do mesmo crime. Por isso há grande chances de que o livro tenha continuidade. Mas ele ressalta a necessidade de que o livro não seja apenas uma constatação, mas um primeiro passo para que as pessoas envolvidas em todos estes casos sejam responsabilizadas e penalizadas pelos crimes que cometeram. “Eles acabaram com estas vidas”, diz.


O evento também apresentou o projeto de pesquisa "Memória e História dos Anos de Chumbo". Coordenado pelo professor Luis Fernando Lopes Pereira (UFPR), a ideia é reunir jovens pesquisadores e dar visibilidade à memória do período no Estado do Paraná.


Onde comprar:


O livro “Cativeiro sem fim” está à venda em livrarias e em Curitiba no Instituto Edésio Passos – Rua XV de Novembro, 467 – Fone (41) 3015-5530. Preço: R$ 54,00.


Vídeo


https://www.youtube.com/watch?time_continue=49&v=VtadUyHNKwg
Autor:Maigue Gueths
Gralha Confere TRE