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07/06/2018

Leonardo Boff: “Eu não sou pessimista, a realidade que é péssima”

Foto: Giorgia Prates

Leonardo Boff não atenuou as palavras para tratar de assuntos como a transformação ecológica, armas nucleares e o aquecimento global ao abrir a 17ª Jornada de Agroecologia, nesta quarta (06), no Teatro Guaíra. Com a conferência “Os desafios atuais da humanidade e o cuidado com a casa comum”, abordou assuntos que tratam os descaminhos da humanidade na relação com o planeta e as suas consequências.


“A gente não compra nossa mãe, nem vende. A gente ama e cuida, e é essa atitude que devemos reproduzir à nossa Mãe Terra”, diz Boff, ao tratar do papel que o ser humano tem de cuidar do planeta. Ele ressalta como a natureza e a humanidade são um só. Em sua opinião, os assuntos abordados são um tanto quanto incômodos, mas devem ser discutidos: “sinto que é uma responsabilidade ética ter que falar sobre isso.”


A natureza é intrínseca ao ser humano e viver em uma era capitalista como essa, repleta de riscos para a vida, significa estar em uma época em que tudo pode ser vendido. Esse fato incomoda o teólogo, que diz que a Terra e a humanidade caminham para um destino comum. O ex-padre citou o Papa Francisco diversas vezes ao longo da palestra. Ao tratar de assuntos como o tráfico de mulheres e de crianças, e dos refugiados, lembrou de uma mais uma frase do líder da Igreja Católica, sobre a incapacidade de chorar da humanidade perante a assuntos tão cruéis como esses.


A situação em que o planeta se encontra jamais fora vista antes na história. O fato da tecnologia ser vista como um fator mais importante do que a ecologia assusta o Boff, que fala sobre como as bases físico-químicas sustentadoras da vida estão ameaçadas. Para ele, grande parte da água doce presente no planeta está no Brasil, na Amazônia, especificamente, e o fato de ela estar sofrendo com o agronegócio pode afetar o equilíbrio da água potável restante no planeta.


O teólogo também criticou a visão de que a modernidade é uma linha reta e ilimitada para o futuro. No entanto, o planeta é limitado e não suporta o avanço tecnológico, o que gera uma catástrofe social e ecológica. Leonardo Boff finalizou com mais uma citação do Papa Francisco: “Irmãos e irmãs, sigamos cantando... que os problemas e dificuldades da Mãe Terra não nos tire a alegria e a esperança” e foi aplaudido por um Guairão lotado. A palestra foi seguida do lançamento do livro “Brasil – Concluir a refundação ou prolongar a dependência.”


A repercussão


Para o educador da escola itinerante Valmir Mota, de Jacarezinho, a palestra foi esclarecedora ao reforçar a importância da preservação da natureza - de tudo aquilo que a Mãe Natureza oferece ricamente, mas que com a veemência do capitalismo operante vem sendo ameaçado e destruído.


Assim como vários analistas da sociedade brasileira, Boff atribui à economia de mercado do sistema capitalista a causa da corrupção de toda a sociedade. Assim como o teólogo, Valmir é pessimista em relação a mudanças na sociedade e no indivíduo, não enxergando possibilidades de reverter à situação de que tudo se tornará mercadoria.


Boff ressalta o conceito que alguns cientistas utilizam para descrever o período em que as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo na Terra – o Antropoceno – e que assim o ser humano se tornou o próprio “satã da sociedade”, de forma a destruí-la gradativamente. Para o educador, a ganância e a falta de consciência geraram essa figura demoníaca que visa exclusivamente o potencial lucrativo.


Já para os alunos do Ensino Médio de Rio Bonito do Iguaçu/PR e Faxinal/PR, Jonas Sabadini, Osmailton Paulino e Diego Henrique Ferreira, a palestra trouxe novos ensinamentos, bem como reforçou o que já aprenderam em seus colégios. Os alunos acreditam na força das manifestações e atitudes coletivas para expressar a relevância da Mãe Natureza e provocar mudanças significativas nas sociedades. Eles concordam com o palestrante e acreditam que a preservação do planeta depende de como a humanidade vai se relacionar com a terra.


Autor:Amanda Kurlapski e Carolina Ghilardi, com supervisão do professor Mario Messagi Júnior
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