

Entre 2011 e 2013, dez empresas no Paraná demitiram 156
profissionais. Ao todo, foram 287 demissões no período em todas as empresas no
estado, em rádio, TV e jornal. De 2014 até outubro de 2015, foram mais 123
demissões contabilizadas somente nas dez primeiras colocadas que despontam no
ranking do SindijorPR. Ao todo, somando todas empresas, são 200 demissões no
período. Na ponta do lápis, totalizam 487 demissões de jornalistas nos últimos
quatro anos no Paraná.
O levantamento é resultado da pesquisa do “Demissômetro”,
instrumento de denúncia criado pelo sindicato: “O método do demissômetro se concentra nas demissões
realizadas pelas empresas. Claro, sabemos que há casos em que o profissional
pediu para ser demitido, assim como, na outra ponta, há casos em que o assédio
leva o jornalista a pedir demissão. Então, assim mesmo, o dado geral do número
de demissões realizadas pelas empresas é revelador de uma tendência ao
enxugamento, arrocho e dificuldades nas redações”, explica Pedro Carrano,
diretor-executivo do SindijorPR.
Tanto estruturais como no aspecto econômico, o jornalismo passa por profundas
mudanças. Por um lado, a evolução tecnológica, as novas plataformas e as
transformações de mercado, de hábitos de consumo e circulação da informação. Do
outro, o monopólio da mídia e seus jogos de interesse.
A constatação vai para além do Paraná, somente em janeiro desse ano, o Grupo
Abril, em São Paulo, entregou metade dos andares que ocupa. Em seguida, o
Estado de Minas Gerais demitiu 11 profissionais experientes e foi repreendido
pelo Sindicato dos Jornalistas mineiro (leia aqui). Depois, o Globo cortou 100
profissionais, sendo 30 na redação (leia aqui).
E quanto na
prática esses fatos dialogam e se relacionam? Quanto à revisão de processos,
reestruturação, otimização, contenção de gastos, crise, não são apenas
eufemismos corporativos para justificar demissões em série de jornalistas?
Gazeta do Povo demite 59 profissionais
em quatro anos. É a que mais fechou postos.
No caso da Gazeta do Povo, se o veículo havia cortado 23
profissionais no período entre 2011 a 2013, este número tristemente aumentou em
treze demissões no período de 2014 e 2015. Foram mais 36 jornalistas da redação
demitidos. No total, o jornal despediu 59 profissionais no período de quatro
anos. Estes dados não incluem aqueles profissionais que solicitaram
desligamento.
Se argumentos generalizados e/ou pessoais tentam justificar
essas demissões por parte da empresa, chama a atenção o fechamento de postos de
trabalho promovidos pelo veículo. Entre o fim de 2012 e setembro de 2015, a
Gazeta do Povo interrompeu 43 cargos. O SindijorPR entrou em contato para saber da diretoria do jornal qual a avaliação deles frente a esse cenário, porém, até o fechamento da matéria, não deram retorno.
Recentemente, outras empresas pararam suas atividades, como é
o caso da ÓTV, que chegou a ter treze profissionais em 2013 e fechou em 2014.
As organizações Martinez da mesma maneira fecharam cinco postos de trabalho no
Paraná. Já a Massa e Bandeirantes foram grandes grupos que integram a lista dos
que mais demitiram, no entanto, na tendência de mercado, entre 2011 e 2015, as
empresas têm mantido o quadro de profissionais.
GRPCom é recordista em
demissões.
Entre 2011 e 2013, foram 49 demissões realizadas pelo grupo
GRPCom, recordista da primeira denúncia do Demissômetro (23 na Gazeta do Povo,
11 na RPC-TV, 07 na Editora Estado do Paraná – adquirida em janeiro de 2012,
três na TV Cataratas, quatro na RPC Cascavel e uma na RPC Guaíra).
No período de 2014, até as demissões recentes de profissionais
de jornalismo na Gazeta do Povo, verifica-se que o GRPCom continua sendo o
primeiro do ranking em corte de profissionais. Agora, pela sua característica
de monopólio, o grupo continua como o principal no Demissômetro, aumentando
ainda mais o número de demitidos no período – que sequer se completou – de dois
anos (2014 – agosto de 2015).
De 49 demitidos (período 2011-2013), a RPC agora realizou ao
todo 71 demissões no período 2014 até outubro de 2015. Foram 36 demissões na
Gazeta do Povo, 09 demissões da Tribuna do Paraná, 26 demissões de jornalistas
na RPC. No interior, foram mais quatro demissões (1 TV Cultura de Maringá, 2 TV
Esplanada de Ponta Grossa, 1 TV Cataratas de Foz do Iguaçu). No caso das TVs, a
exemplo de outras emissoras, a tendência é de manutenção, em média, dos postos
de trabalho.
A Rede Massa, que já havia conquistado o nada honroso quarto
lugar no demissômetro passado, quando demitiu 09 trabalhadores da comunicação, sobe
de colocação e passa para terceira colocada, demitindo mais 10 trabalhadores.
O silêncio da RIC
O Grupo RIC, que
trabalha no Paraná com canal de Televisão, Rádio Jovem Pan, portal de notícias
na internet e Revista Top View, apesar de procurado pelo SindijorPR diversas
vezes para obter informações, com o silêncio, negou-se a passar os dados sobre
seu quadro de trabalho no jornalismo. O Grupo apresenta 04 demissões na Editora
Top View e 02 na Ric Mais Paraná, porém não se sabe quantos postos de trabalho
foram fechados e nem o número exato de demissões.
“A prática
do silêncio nos preocupa tanto quanto os números de demissões que estão nítidos.
Já vimos casos assim que significaram burlar os direitos trabalhistas por baixo
do pano. O SindijorPR não poupará esforços para garantir os direitos dos
trabalhadores do Grupo RIC”, afirma Carrano.
Pequenas empresas e
editoras também estão demitindo
Outro fator que chama a atenção nos novos dados do período recente
sobre demissões é o número de empresas pequenas, editoras ou grupos que não
haviam aparecido no demissômetro anterior. Cenário que coloca mais provocações
quando se pensa os sintomas da crise no ramo da comunicação.
É o caso,
por exemplo, da TV Evangelizar, cujo nome formal é Associação Evangelizar é
Preciso, que trocou 08 profissionais do quadro da empresa. Natielle Makiak,
coordenadora do RH, afirma que mesmo frente ao alto número de demissões, a
empresa está em expansão, apesar de qualquer crise, e que as demissões se
relacionam a motivos internos.
No mesmo caminho, a Moro Comunicação Eireli ME demitiu 08
jornalistas. A Banquinho Publicações Ltda – EPP demitiu 07 profissionais. Os
números dessas empresas chegam a ultrapassar empresas grandes do setor de
comunicação no estado.
Contrariando as constatações do Demissômetro, a Federação Nacional de
Jornalismo (FENAJ), afirmou recentemente que a crise não chegou nas
assessorias, fato que, segundo ElaineFelchaka,
diretora de Assessoria de Imprensa do SindijorPR, foi questionado. “A FENAJ realizou uma pesquisa em
2012 que está totalmente defasada. Somente na agência onde trabalho foram três
demissões nos últimos tempos. É papel da federação fazer um novo mapeamento”,
aponta.
No mesmo
ano, a pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro, realizada pela Universidade
Federal de Santa Catarina em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e FENAJ,
questionou a informação já que aponta para a precarização do trabalhador das
assessorias de imprensa. Conforme informou o material, 40,3% dos profissionais
do país atuam fora da chamada mídia tradicional. Deste total, apenas 39,4%
tinha carteira assinada. Nessas empresas de comunicação, ainda se consagra como
comum o não respeito à jornada de trabalho de 05 horas e ao piso salarial dos
jornalistas que ainda acumulam tarefas.
Pensando sobre esse contexto das demissões, estamos em um cenário local em que
quatro assessorias e pequenas empresas constam entre as 10 que mais demitiram.
ParaFelchaka, isso também se relaciona com o
cancelamento de contratos e perda de clientes nas assessorias de imprensa
frente uma crise que já atinge o setor.
A diretora afirma que assessores que são contratados pelas empresas e respondem
pela comunicação desta companhia, estão, ainda, um pouco mais resguardados. “As
empresas que investem em ter um canal e um quadro próprio de comunicação mantém
este profissional, que na verdade é quem zela pela imagem da companhia,
principalmente em tempos de crise”, explica.
Por outro
lado, para jornalistas que estão trabalhando em agências de comunicação, a
realidade tem sido mais cruel e o peso do demissômetro é bem maior. “Um dos
primeiros cortes a ser feito nas empresas que terceirizam a comunicação é
justamente este contrato com as agências e isso reflete diretamente nas
demissões dos jornalistas. As equipes de agências estão ficando cada vez
menores, por conta da anulação e suspensão dos contratos”, finaliza.
Quem não samba vai
embora?
Na avaliação de Gustavo Henrique Vidal, diretor-presidente do
SindijorPR, mesmo no caso de empresas que demitiram e mantiveram os postos de
trabalhos, contratando outros jornalistas, o preço disso é alto para os
profissionais e para a profissão.
“Na verdade, o que acontece é que a empresa rebaixa os
salários, cortando os profissionais mais experientes. Com isso, a cultura da
rotatividade vira uma regra, com todo o desrespeito que isso causa aos
jornalistas. Algumas empresas não fecharam postos de trabalho, mas quem fica
sofre sobrecarga, assédio e más condições de trabalho”, reflete.