Está
disponível aos jornalistas brasileiros um questionário que visa identificar o
que pensa a categoria sobre pressões editoriais provenientes de interesses
alheios ao bem-público. A pesquisa nacional vem sendo organizada pelo grupo de
pesquisa Comunicação e Democracia, do Departamento de Comunicação da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) e é promovida pela Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj) e SindijorPR.
“A intenção
é identificar e mensurar em que grau as redações brasileiras são afetadas por
relações de poder com grupos políticos e econômicos e compreender de que forma
os profissionais de comunicação reagem a essas interferências externas à lógica
da prática jornalística”, explica o coordenador do projeto professor Mário
Messagi Jr.
Para Diangela
Menegazzi, diretora de formação e ação sindical do SindijorPR, é preciso entender
o real para poder incidir sobre ele: “Por isso, é superimportante que os
pesquisadores do campo jornalístico se debrucem a estudar aspectos da profissão
que determinam a qualidade das informações, ou que, em certa medida, vão
influenciar o papel social que o jornalismo precisa cumprir em uma sociedade
democrática. Esse papel é, entre outros, o de proporcionar que todos os
cidadãos tenham acesso a informações de interesse público”.
O
questionário está sendo aplicado em todo Brasil por meio de formulário online
até o dia 7 de dezembro de 2015. O roteiro é anônimo, composto de 50 perguntas
e pode ser respondido em aproximadamente 10 minutos. A intenção dos
pesquisadores é ouvir cerca de 2.800 jornalistas de todo Brasil.
Dados do Paraná
Em 2013 uma
pesquisa sobre o mesmo tema foi realizada no Paraná, apresentando uma prévia
local. Os dados revelaram que grande parte dos profissionais está sujeito a
pressões comerciais e políticas na rotina das redações. A maior parte tende a
se submeter a infrações éticas a fim de preservar as relações de trabalho e o
próprio emprego, já que se sentem desprotegidos.
De acordo
com os resultados, 88,6% dos jornalistas percebe, em alguma medida, a
interferência editorial originada de critérios não-jornalísticos (interesses
político-econômicos, por exemplo); 74,3% já realizou pauta “recomendada”
(instrução para escrever reportagem de acordo com interesses do veículo
enquanto empresa) e 55,7% não concordam com as pressões, mas mesmo assim
administram o impasse “com cautela”, sendo que 8,5% obedece a esse tipo de
ordem para manter emprego. Outra conclusão importante diz respeito a
autocensura. Prevendo o corte de textos inadequados a linha editorial do
veículo, os profissionais tendem a antecipar a censura. Ao menos 70% já deixou
de publicar determinado assunto prevendo o corte.
Processos posteriores
Partindo
desse processo, o grupo de pesquisadores também fará análise de dados
econômicos das empresas e impacto no mercado de trabalho para entender os
hábitos de consumo de informação e de interação do novo
leitor/ouvinte/telespectador. Tentar prognosticar as tendências promissoras
para o jornalismo.
Conforme
afirmam os pesquisadores um “novo paradigma começa emergir e, junto com ele,
uma nova forma de democracia. O grande causador da crise é a internet, direta e
indiretamente. Ela transforma o mercado publicitário, os processos e hábitos de
consumo de informação e de produtos e afeta a produção e circulação de
informação e a maneira de fazer jornalismo. Mas a internet, ainda que configure
possibilidades de novas práticas sociais, é inerte. Por isso, é fundamental
entender o novo leitor/ouvinte/telespectador e cidadão”.
Neste
cenário, o jornalismo parece menos necessário, substituível por outras formas
de circulação de informação, mas nenhuma delas cumpre o mesmo papel
democrático, em relação a questões relativas ao Estado ou aos direitos da
população.
“Nos últimos
períodos, os jornalistas têm sentido grandes transformações na sua atividade
profissional. Algumas delas causadas pelo que alguns especialistas chamam de
falência de um modelo de negócios. Mas veja, é a falência de um modelo de
negócios, não da profissão do jornalista. Com esse excesso de informações a
qual estamos submetidos, exige-se mais do trabalho dos jornalistas. Mas o
resultado desse trabalho (a notícia, a análise, a reportagem...) precisa ser de
qualidade e em profundidade. É preciso ir além”, explica Diângela, reafirmando
a importância da pesquisa.
Nesse
sentido, o projeto deverá abrir o debate, a partir dos dados levantados, com o
campo profissional, tanto com jornalistas que tem posição de definição
editorial nos veículos tradicionais quanto com aqueles que estão buscando
caminhos inovadores.
“A falência
no modelo de negócios precisa ainda ser entendida. Porque sempre que falamos
nisso, vem à
mente um modelo de negócios que é privado. E a comunicação pública
e alternativa? Talvez tenhamos que voltar o olhar para elas se quisermos pensar
em outras formas de “negócio”. Entender tudo isso, também é papel das
universidades, por isso o Sindijor apoia iniciativas como o grupo de pesquisa
Democracia e Comunicação”, finaliza Diângela. .