Era cedo na
manhã que começou nublada e fria. Os gritos de uma multidão ecoavam transformando
a rotina do centro de Curitiba na terça-feira (29), provocando a atenção das
pessoas que, cotidianamente, passam atrás de seus sonhos. Naquele aglomerado,
mais de mil trabalhadores, aposentados, jovens e crianças estavam reunidos
justamente por isso, tornar real o sonho de uma moradia própria.
As famílias que
constroem o Movimento Popular por Moradia (MPM) ocupam terrenos localizados na Cidade
Industrial de Curitiba (CIC), organizados em três comunidades: Nova Primavera, 29
de Março e Tiradentes. Na luta por melhores condições de habitação, a multidão veio
até o centro da capital para lutar pela regulamentação da lei que institui o
Programa de Aluguel Social (PAS), a construção de condomínios já negociados com
a prefeitura por meio do Programa Minha Casa Minha Vida Entidades e a mediação
de conflito fundiário que envolve um dos terrenos ocupados.
Prefeitura Municipal
Os
manifestantes se reuniram na Praça
19 de Dezembro. Ao passo que caminhavam pela Av. Cândido de Abreu, o céu se
abria, o sol aparecia e esquentava os que ainda não tinham tirados suas blusas
de tanto pular e gritar.
A Prefeitura
Municipal da capital foi o primeiro ponto de parada. No fim de julho, o
prefeito Gustavo Fruet (PDT) sancionou a lei do aluguel social, que consiste em
um pagamento para famílias de baixa renda que não têm casa própria e que vivem
em situação habitacional considerada de emergência. A lei tem 120 dias, desde a
sanção, para ser regulamentada.
“Na
prefeitura a gente quer, o mais rápido possível, que seja regulamentada a Lei
do Aluguel Social, que está passando o prazo e até agora o Prefeito Gustavo Fruet
não regulamentou”, explicou Chrysantho Figueiredo, um dos coordenadores
municipais do MPM.
Para dar encaminhamento, uma comissão com representação de cada ocupação esteve em reunião, ainda nesta manhã, com a Prefeitura:
“Do diálogo
foi estabelecido um grupo para regulamentar o aluguel social para as famílias
que lutaram por sua concretização”, explicou a coordenação do movimento. A
Prefeitura Municipal se comprometeu a regimentar o aluguel social até o fim de
outubro. Também foi marcada próxima reunião para avançar no projeto de
construção de moradias da ocupação Nova Primavera e 29 de Março.
Assembleia Legislativa do Paraná
Em paralelo a reunião que ocorria na Prefeitura Municipal, a multidão continuou ao canto, acompanhada por uma bateria, até a Assembleia Legislativa do Paraná. O movimento ocupou a rampa de acesso lateral do prédio e seguiu solicitando suas pautas.
“Aqui na
Assembleia a pauta é mais grave. No terreno onde está a ocupação Tiradentes,
foi tentada a reintegração e foi tentado, por duas vezes, um leilão que nós conseguimos
barrar com luta e mobilização. Seguimos no espaço, mas a situação jurídica ali é
mais frágil”, relata Chrysantho.
O
coordenador do movimento se refere ao fato de, entre interesses de grandes
empresas sobre o terreno, o secretário de assuntos fundiários do Governo Beto
Richa, Hamilton Luiz Serighelli, ter se comprometido, junto à Polícia
Militar do Estado, a não aderir ao despejo sem uma negociação alternativa para
as 800 famílias que ali moram.
“A gente
veio aqui cobrar que esse acordo seja cumprido. Temos propostas de terrenos
para que seja negociada a construção do condomínio pela modalidade ‘Minha casa,
minha vida entidades´, que não segue a fila da COHAB por lei, segue sim a
indicação do movimento. E é isso que a gente quer fazer em um momento em que
está todo mundo falando de crise, a especulação imobiliária comendo solta e o
povo não consegue ter suas casas construídas. É por isso que estamos batalhando”,
enfatiza Chrysantho.
Durante o
ato, Hamilton Serighelli desceu para falar com os manifestantes, ele firmou
compromisso de mediação do conflito por meio do Minha Casa, Minha Vida
Entidades para a Ocupação Tiradentes. Foi criado um grupo de trabalho do MPM
para analisar terrenos para construção de moradias para a ocupação.
Truculência - Um policial militar espirrou spray de pimenta
nos olhos de um manifestante. A ação indignou a população, mas logo o policial foi retirado do local e a situação foi acalmada pelas lideranças do
movimento.
29 de abril – Não esqueceremos
Para recordar o Massacre de 29 de abril contra os servidores públicos estaduais, durante o ato, os manifestantes fizeram
um minuto de silêncio na ALEP . O evento lamentável faz hoje 5 meses.
'Curitiba não enfrenta o problema da moradia'
São mais de
60 mil famílias que vivem em áreas irregulares na capital paranaense. O bairro
CIC – Cidade Industrial, concentra 30 mil dessas pessoas. O Sindicato dos
Servidores Públicos Municipais de Curitiba (SISMUC), produziu um especial tratando
do tema, debatendo como, frente as faltas de alternativas, as ocupações urbanas
acabam sendo a única possibilidade de moradia para muitos trabalhadores. Veja
publicação completa.
Chrysantho Figueiredo, um dos coordenadores do MPM, explica os motivos do ato; veja o vídeo.