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ARTIGOS

Autor: Pedro Carrano
25/01/2016

Qual é o papel dos sindicatos em 2016?

É preciso sair de um horizonte estreito e compreender que o momento é de discussão de projetos para o Brasil.

Com frequência, a organização sindical recebe rótulos do monopólio da mídia, que associa o sindicalismo ao burocratismo, ao prejuízo à “vida do cidadão” e ao “risco de inflação” presente no aumento salarial. Tudo isso, em um constante exercício de desgaste.

Mas é preciso reafirmar os sindicatos como espaços de referência, organização e definição de um patamar de direitos dos trabalhadores.

Entre os anos de 2003 a 2013, os trabalhadores vivenciaram no Brasil um período de aumento de greves, aumento do salário mínimo, retomada de lutas, inclusive na esfera privada, e obtenção de ganhos salariais. Em resumo, um melhor terreno para a luta econômica.

Mas é fato que o período favorável e o aumento da capacidade reivindicatória não representam em si mesmos uma caminhada sem pedras no caminho. Ainda mais porque a organização do trabalho se manteve sujeita à ataques e à tentativa de redução de direitos iniciada na década de 1990.

Trata-se de um momento complicado entre avanços e recuos? Pode ser. Por isso, o momento atual exige um esforço redobrado dos sindicatos para, de fato, convencer os trabalhadores e limpar o terreno sobre qual é o programa de medidas que a maioria da população necessita.

Embora com ganhos que modificaram suas condições de vida, os trabalhadores continuaram sujeitos ao assédio de um programa neoliberal, que ganha força nesse momento de desgaste do governo.

Agora, os primeiros impactos da queda da economia alcançam os trabalhadores antes mesmo que houvesse um salto na sua organização, politização e definição de um programa sobre suas principais demandas. Se, em 2012, 93% das negociações salariais tiveram aumento real, acima da inflação, em 2015 este número passou para 63% (dados do Dieese). O que coloca em desgaste inclusive a composição de interesses, entre empresariado e trabalhadores, que tem marcado o governo de frente política nesses 14 anos.

Ao longo desse período, duas questões ficaram em aberto e são cruciais para a esquerda. Para citar as duas reformas mais urgentes: não houve avanços na reforma política e na mudança do marco regulatório das comunicações, mantendo os trabalhadores apartados das decisões políticas (nas campanhas prevalece o financiamento empresarial) e também da própria voz (os meios de comunicação são concentrados nas mãos de algumas famílias).

Um 2015 que continua


Um balanço do ano de 2015 reforça a entrada em cena dos professores, ao lado da movimentação dos estudantes. Os movimentos de luta do magistério conseguem, de certa forma, tencionar o cerco conservador da mídia, congresso e judiciário pelo fato de os professores terem forte apoio e respeito da comunidade.

Importantes mobilizações foram vistas: dos professores do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais, junto ao restante do funcionalismo público.

Em meio a um 2015 no qual o governo foi acuado pela pressão da oposição neoliberal e não aplicou políticas de acordo com a base social que o elegeu, um fator importante foi a posição crítica de algumas centrais sindicais, caso da CUT, que participou da organização de lutas nacionais ao lado dos movimentos nos dias 13 de março, 7 de abril, 20 de agosto, 3 de outubro, 16 de dezembro, entre outros, com as pautas contra o impeachment, mas também em defesa de outra política econômica.

De 2015, o ano que não termina, muitos projetos tendem a voltar à pauta e exigir mobilização. É o caso das terceirizações, dos ataques à Previdência, das demissões em massa, da velha tentativa de fazer valer o negociado prevalecer sobre o legislado, entre outras questões que exigem capacidade de comunicar à população o que está em jogo.

Desafios


Para essa interlocução e convencimento dos trabalhadores, esbarramos também em outros problemas: a necessidade de discutir de forma ampla as amarras da estrutura sindical no Brasil; a inexistência na prática de Organização por Local de Trabalho (OLT), devido à intensa rotatividade nos postos de trabalho. A dificuldade desta forma de organização de base exige uma prática diferente do “tarefismo” e do “eventismo” tão comuns na prática sindical, pois requer um trabalho de eixo mais longo e paciente.

Por outro lado, voltar-se apenas para o local de trabalho é fundamental na organização, mas isso deve estar conjugado com a participação nos espaços mais amplos, como é o caso do debate da Frente Brasil Popular (FBP). Qual sindicato tem feito esses dois caminhos, do trabalho de base ao debate de como participar na FBP?

Ficam as provocações. Não há respostas prontas e 2016 tende a ser novamente um ano turbulento na economia e na política. O método de organização, formação e lutas se faz cada vez mais urgente para os sindicatos, apontando a solidariedade de classe e o fortalecimento dos vínculos entre movimento sindical e social, saindo de um horizonte estreito e compreendendo que o momento é de discussão de projetos. E o sindicato é um espaço fundamental para isso.

Articulista: Pedro Carrano
Jornalista no Sindicato dos Servidores Públicos Municipais Curitiba (Sismuc) e diretor-executivo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná.
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